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Com a Palavra n.2, Jaa Torrano, finalista do Prêmio Jabuti pela tradução de ‘Édipo Rei’: “Cinquenta anos num trabalho obsessivo e solitário”

O professor e tradutor Jaa Torrano é finalista do Prêmio Jabuti 2023 na categoria Tradução com a obra Édipo Rei, da Coleção Tragédias de Sófocles – lançada pela Ateliê Editorial em coedição Mnēma. O anúncio foi feito na última terça-feira, 21 de novembro, pelo site da premiação.

Em entrevista exclusiva para os assinantes de Com a Palavra, momentos após receber a notícia, o professor descreve sua reação e um pouco do longo processo que foi traduzir o clássico grego para o português.

CaP: Como foi sua reação ao saber que estava entre os finalistas?

JAA TORRANO: Em dezembro de 1972 comprei a edição bilíngue da tragédia Édipo Rei com a intenção de traduzi-la, mas ao longo de anos nenhum resultado de meus esforços de traduzi-la me parecia satisfatório. Então traduzi o Prometeu de Ésquilo, em seguida todas as tragédias que nos chegaram de Ésquilo, depois todas as de Eurípides, então eu me senti habilitado a traduzir as tragédias de Sófocles e finalmente, em 2020, Édipo Rei ou Édipo em Tebas.Parece-me uma notável coincidência que meus editores da Ateliê/Mnêma tenham escolhido essa tragédia para inscrever no prêmio Jabuti e que ela esteja entre os finalistas do prêmio. Uma coincidência sofocliana, como as coincidências do destino do personagem Édipo, que todas as suas iniciativas para fugir do destino o conduzem à realização dele.Cinquenta anos trabalhando nesta tradução num trabalho obsessivo e solitário de súbito se torna um reconhecimento público manifesto na eleição deste trabalho entre os finalistas.O que me motivou a perseguir esse resultado por tantos anos foi a suspeita que nesta tragédia de Sófocles se configura o enigma da condição humana, a coincidência da liberdade humana e da fatalidade divina.

Qual foi o princípio que guiou seu processo de tradução do original para o português?

O recorte de cada verso traduzido reproduz a análise da realidade operada pelo texto original de modo a apresentar ao leitor as falas e os fatos tal qual foram apresentados ao espectador na primeira encenação da tragédia. Esta tradução, pois, tem por objetivo restaurar a visão de mundo própria da tragédia e assim tornar o leitor tão contemporâneo dos Deuses e dos heróis quanto o coro da tragédia se supunha ser.Cada verso é traduzido como uma unidade de ritmo, de medida e de sentido, de modo a levar o leitor a ter assento no Teatro de Dioniso e contemplar o espetáculo trágico como os gregos contemporâneos de Sófocles o viram. Isso só nos mostra o esplendor da arte poética e dramática de Sófocles, mas também nos dá condições de compreender por que esta tragédia de Sófocles permaneceu na Literatura Ocidental como o paradigma literário que inspirou tantos poetas e dramaturgos ao longo da História.

Leia aqui a edição anterior, com Augusto de Campos

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