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Com a Palavra, Augusto de Campos: “Esta edição é a mais completa coletânea”

Na última sexta-feira, 17 de novembro, a Ateliê Editorial estreou a sua nova newsletter Com a Palavra, trazendo uma entrevista inédita com o poeta Augusto de Campos, autor em destaque da Flip 2023. O criador da seminal coletânea de poesia concreta VIVAVAIA conversou sobre o processo de criação da obra e sobre a importância de sua 6ª reedição pela Ateliê Editorial, já disponível para compra.

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Augusto de Campos:
“Esta edição é a mais completa coletânea”

CaP: Qual a importância desta nova edição?
AUGUSTO DE CAMPOS: Não me cabe, como autor, falar da importância do livro. Mas posso desde logo mostrar a minha admiração pela coragem do editor Plinio Martins Filho em acolher um projeto com tantas exigências linguísticas e gráficas, sabendo-se que a poesia, especialmente a de natureza experimental, como a minha, tem público restrito.

Como se desenvolveu a parceria com Julio Plaza no projeto gráfico do livro?
Minha amizade e colaboração com Julio eram absolutas. Sintonizávamos um com o outro e nunca tivemos qualquer atrito ou discussão. Nos entendíamos naturalmente. A capa e a quarta capa são de minha autoria. Também os poemas que realizei e artefinalizei, quase todos, com fontes digitais ou com fotos.

O trabalho do Julio foi o de juntar cronologicamente as peças, e cuidar da diagramação final do conjunto. Assinamos os dois o projeto gráfico. A primeira edição saiu em 1979, pela Editora Duas Cidades. Acontece que eu trabalhava na Av. São Luiz, como Procurador do Estado (admitido por concurso público) nas imediações da Livraria Duas Cidades, sediada na Rua Bento Freitas, que eu frequentava muito. Certo dia, em 1976, o livreiro/editor, Santa Cruz, como era conhecido o ex-dominicano Frei Benvenuto, chamou-me para uma reunião particular, na qual me disse que desejava fazer uma nova edição da Teoria da Poesia Concreta .

Respondi bate-pronto, sem consultar ninguém: — SIM, se publicar em seguida o livro de poemas de Decio Pignatari (Haroldo já tinha o seu Xadrez de Estrelas editado pela Perspectiva) e eu achava que o Décio, mais velho quatro anos do que eu, era o poeta mais importante para ter as suas obras reunidas em volume. Assim se fez.

A nova edição da Teoria da Poesia Concreta (depois de vinte anos) saiu em 1976. Poesia Pois é Poesia, em 1977. E o meu VivaVaia, dois anos depois. Eu tinha já 48 anos.

Até então todos os meus livros de poesia só haviam sido publicados por editoras fantasmas, com o meu dinheiro e o de amigos, principalmente o do nosso mecenas, o poeta Erthos Albino de Souza. A primeira edição trazia em disco Dias Dias Dias e O Pulsar, interpretados por Caetano Veloso. Uma nova edição saiu pela Brasiliense em 1968, sem disco.

Sob a rubrica da Ateliê Editorial, veio a 3ª edição, revista e ampliada em 2001; já divulgadas em discos e plataformas acessíveis, as interpretações de Caetano deram lugar a leituras minhas de vários poemas musicadas por Cid Campos; 4ª edição, 2008. 5ª, 2014. Mais inovações ao longo das edições. O poema-objeto Linguaviagem, em envelope encartado, os popcretos em cores (o SS ampliado em encarte para melhor leitura — a mais completa coletânea, que agora atinge a 6ª tiragem.

De que maneira o álbum Poesia É Risco contribui para a leitura de VIVAVAIA?
A Dupla Augusto-Cid foi como a que fiz com Julio Plaza, transubstancial. Nos entendíamos com muita facilidade, e foi nessa base que fizemos o CD Poesia é Risco e tantos outros trabalhos poético-musicais. Poesia é Risco, publicado pela primeira vez em 1995 pela Polygram, graças ao apoio de Caetano, e hoje em terceira edição a cargo do Selo Sesc, veio consubstanciar, de nossa parte. o projeto de poesia verbivocovisual que era um dos pressupostos da poesia concreta e envolvia não só a sua prática, mas as poéticas inovadoras do presente e do passado.

Leia também nossa entrevista com Cid Campos sobre VIVAVAIA.

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Augusto de Campos é poeta, ensaísta, tradutor. Incorporou novas mídias à sua poesia (painéis eletrônicos, holografias, projeções a laser, arte digital e eventos multidisciplinares). Juntamente com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, fez parte do Movimento da Poesia Concreta.

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