Retrospectiva Ateliê Editorial: publicação de ‘Finnegans Wake’ em volume único

Em 2022, a Ateliê Editorial publicou a famosa edição de seu catálogo – agora em volume único e não bilíngue – de Finnegans Wake, último romance de James Joyce, lançado em 1939. A obra, que inaugura a coleção rolarriuana, vem com a premiada tradução e notas explicativas do professor Donaldo Schüler, assim como o prefácio do estudioso da obra joyciana, Henrique P. Xavier. A edição, originalmente lançada em cinco volumes, já recebeu os prêmios Jabuti de Tradução (2004), Prêmio John Jameson pela contribuição à difusão da cultura irlandesa, Prêmio APCA de Tradução (2003), “Fato Literário” da Feira do Livro de Porto Alegre (2003).

Donaldo Schüler

O tradutor Donaldo Schüler é doutor em letras e professor livre-docente pela UFRGS. Traduziu Heráclito, Sófocles e Joyce. Pela Ateliê, traduziu Finnegans Wake, trabalho ganhador do Jabuti de 2004, Prêmio APCA de 2003, entre outros. No texto introdutório da nova edição, Schüler destaca: “A beleza sonora, rítmica e verbal de Finnegans Wake esconde violência, sentimentos proibidos, indecências. Parte da obscuridade dirigida a leitores atilados tem esta origem. Para se fazer entendido, o texto oferece muitas versões do mesmo código cifrado. Os nomes e caracteres emergem lentamente, às apalpadelas, aos pedaços”.

James Joyce

James Joyce (1882-1941) nasceu em Dublin e foi polêmico por sua literatura de vanguarda. Em 1922, ganha notoriedade mundial por Ulisses, considerado desde então um novo paradigma para o romance.

Leia um trecho do texto introdutório por Donaldo Schüler

Por flores e por floras, por faunas, por vidas e por vias, flui Finnegans Wake, o romance e o rio, o romance-rio. E fluem recordações, estilhaçadas, entrelaçadas. Como os átomos epicúreos, os fragmentos joycianos caem em efêmera e progressivas combinações…

O romance alude, incorpora, modifica e parodia número imenso de obras, núcleos, seminais de nova floração. Não há página sem evocações literárias – as bíblicas superam todas – como se Joyce quisesse abarcar tudo o que se escreveu, fazendo todos os textos um livro só…

Quem vem do Ulisses ao Finnegans Wake passa da narrativa em vigília à narrativa ao despertar, relato de um sonho que envolve o universo. O romance não registra a experiência onírica de uma das personagens. Finnegans Wake desdobra o mapa de uma mente ampla como o universo. O sonhador não sonha para alguém sobre algo num código conhecido. Acontecido fora da interlocução, o sonho quebra as cadeias da subordinação. Joyce proclama na formação de palavras, de frases, de cenas processos que avizinham do método imperativo de Freud…

O sonho navega por águas que a vigilância comprometida com o socialmente aceito deliberadamente ignora. Desejos culposos emergem envolvidos em papel vistoso, fitas e cartão de felicitações. A beleza sonora, rítmica e verbal de Finnegans Wake esconde violência, sentimentos proibidos, indecências. Parte da obscuridade dirigida a leitores atilados tem esta origem. Para se fazer entendido, o texto oferece muitas versões do mesmo código cifrado. Os nomes e caracteres emergem lentamente, às apalpadelas, aos pedaços.

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