Pequeno Palco: uma leitura rápida, mas profunda

Nesta entrevista ao Blog da Ateliê, o poeta Ricardo Lima fala de seu sétimo livro, a coletânea Pequeno Palco. Este é seu terceiro livro pela Ateliê, editora pela qual já lançou Pétala de Lamparina (2010) e Desconhecer (2015). Ricardo, que é jornalista e coordenador editorial da Editora da Unicamp, conta nesta entrevista como construiu sua obra mais recente e sobre quais temas ele se debruça neste livro de leitura rápida – razão pela qual é possível ao leitor ter uma noção panorâmica e completa da obra, que reflete a visão do autor sobre a realidade atual. “Tudo só tende a piorar, mas precisamos ter esperança”, diz o poeta na entrevista a seguir:

Os poemas reunidos neste livro foram escritos no decorrer de seis anos. Como foi o processo de reunir esse material? Como escolher o que entraria e o que seria excluído da seleção?

Ricardo Lima: Este é o meu sétimo livro e todos foram escritos e publicados sem pressa, em média a cada 4 ou 5 anos. São agrupamentos pequenos, a minha maior coletânea tem 40 poemas. Com exceção de um livro (Pétala de Lamparina) os poemas vão sendo escritos sem programa, sem cobrança, sem rotina. Tem semana que escrevo três noites seguidas. Depois fico meses sem pensar nisso. A seleção é feita depois de muitas e muitas leituras, os que não agradam 100% vão ficando de escanteio, esperando solução ou já descartados para a pasta “pequeno palco – não publicados”. Uma coletânea enxuta permite a leitura em uma sentada. Em 20 minutos o leitor atravessou aqueles 30 poemas e acho que isso possibilita uma apreciação mais adequada do conjunto.

Quais são os principais temas que perpassam os poemas do livro?

RL: São os de sempre. Morte, vida, infância, amor, tempo… esses temas mais comuns da poesia. Só escrevo sobre isso. O que pode ser apontado como diferente neste livro é a presença de alguns poemas com temática mais social, para ficarmos numa definição simples. Mas não vejo nada de excepcional nisso. É claro que o tema social deveria aparecer em poemas escritos nos dias de hoje, nesse caos que é o início do século 21.

O título do livro remete ao poema de abertura, cujos versos finais dizem: “no nosso pequeno palco/somos piores do que somos.” De que maneira este “clima” permeia os outros poemas do livro?

RL: Este final é pessimista. Talvez este seja o clima que perpasse outros poemas, mas não todos. O que também não é de se estranhar, tendo em vista este país conturbado, desgovernado, conduzido pelo mal.

A sinopse do livro no site da editora informa que “Em sua nova coletânea, Ricardo Lima retoma o estilo minimalista e lírico dos livros anteriores, porém trata a miséria agressiva dos dias atuais com versos mais diretos, numa linguagem menos elíptica”. A “miséria agressiva dos dias atuais” pode ter vários entendimentos: a situação da saúde, da economia, da sociedade… entretanto, os poemas reunidos em Pequeno Palco são anteriores ao cenário da pandemia pela qual o mundo passa. Por isso, cabem aqui duas perguntas: que miséria era aquela de quando os poemas foram escritos? Como aquela miséria ecoa no momento atual pelo qual passamos?

RL: A miséria é a que já está plantada no mundo bem antes da pandemia. A miséria dos afogados no Mediterrâneo e a miséria dos que não se afogaram no Mediterrâneo. A miséria humana que cria abismos e abismos e abismos. Mas, como disse na resposta anterior, o pessimismo permeia alguns ou muitos poemas do livro, mas não todos. Tudo só tende a piorar, mas precisamos ter esperança. Usei como epígrafe o primeiro parágrafo do livro O amante de Lady Chaterly, publicado em 1928: “Nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a vê-la tragicamente. O cataclismo já aconteceu e nos encontramos em meio às ruínas, começando a construir novos pequenos habitats, a adquirir novas pequenas esperanças. É trabalho difícil: não temos mais pela frente um caminho aberto para o futuro, mas contornamos ou passamos por cima dos obstáculos. Precisamos viver, não importa quantos tenham sido os céus que desabaram.”

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