Impressões de um leitor de Euclides da Cunha

Por Renata de Albuquerque

A FLIP já acabou, mas Euclides da Cunha (homenageado da 17ª edição da Festa) merece continuar na pauta. Por isso, hoje, o Blog Ateliê traz impressões de leituras de Felipe Tavares de Moraes sobre Euclides da Cunha, suas obras e os livros sobre o autor. Felipe é professor, formado em História, Mestre em Educação pela UFPA e Doutor em Educação pela USP e se considera um “leitor comum, não especialista na obra euclidiana”.  Entretanto, Euclides da Cunha despertou sua atenção já durante o Ensino Médio e ele nunca mais parou de ler as obras do carioca e as escritas sobre o autor.

“Nas aulas sobre os movimentos de contestação a recém implantada República, Canudos era mencionado como uma destas manifestações. (…). Os Sertões (era considerado), segundo os professores no Ensino Médio, uma das principais obras do pensamento brasileiro. Foi aí que fiquei curioso em lê-lo. Ingressei no curso de História, na Universidade Federal do Pará (UFPA), no qual tive a oportunidade de ler a obra, conhecer com mais profundidade a trajetória intelectual de Euclides da Cunha e as suas contribuições para pensar o Brasil e a Amazônia”, conta ele.

Felipe Tavares de Moraes

Sua formação em História permitiu que ele percebesse, em Euclides da Cunha, o desejo de entender o Brasil profundo, a realidade sertaneja “dos mais longínquos rincões amazônicos”, ainda que com um profundo pessimismo. “O sertão é uma categoria central no projeto intelectual de Euclides da Cunha, no qual civilizar o Brasil era civilizar o sertão. Por isso, urgia investigar o sertão”, acredita. Segundo ele, ler Os Sertões continua uma obra atual porque faz o leitor tomar contato com uma carnificina que guarda laços com a realidade atual do país.

O interesse por Euclides da Cunha adensou-se por causa de sua Tese de Doutorado, em que Felipe analisa a construção do seu pensamento social e educacional de José Veríssimo. “A minha hipótese é que José Veríssimo e Euclides da Cunha compartilhavam o mesmo instrumental analítico cientificista, porém suas análises eram orientadas por distintas experiências sociais, políticas e culturais, respectivamente, de um ‘natural’ (paraense) e de um ‘estrangeiro’ (fluminense) a região”.

Para os leitores que consideram a obra de Euclides da Cunha difícil, Felipe diz: é uma obra árida, com é típico de obras oitocentistas, um testemunho de um tempo histórico que, por meio da linguagem literária, jornalística e científica nos permitem acessar uma época cheia de dilemas, ambiguidades e ambivalências. “Não é uma linguagem fácil. Este desafio da linguagem, porém, não deve desencorajar o jovem leitor brasileiro contemporâneo. Nesse sentido, a edição do Os Sertões, da Ateliê Editorial, a meu ver, é a melhor disponível no mercado editorial brasileiro. O prefácio, a cronologia, as notas e o índice fazem desta edição uma das mais completas, sobretudo pelas notas críticas de rodapé que proporcionam uma imersão integral na leitura, evitando a consulta onipresente do dicionário e do google, e permitindo o contato com este outro tempo evocado nos significados e imagens do texto euclidiano”, diz.

Já sobre Euclides da Cunha: Uma Odisseia nos Trópicos, a biografia do escritor carioca, Felipe afirma que ela se destaca por ser um estudo rigoroso, que faz um levantamento documental sobre a vida e obra do autor de Os Sertões. Segundo ele, essa pode ser uma “bússola para aqueles que são marinheiros de primeira viagem na obra de Euclides da Cunha”. “O que mais me interessou na biografia de Amory é o capítulo dedicado a trajetória de Euclides na Amazônia, chamado ‘À Margem da História’, pois meus investimentos de pesquisa vão tratar exatamente deste período da sua vida. Nesse sentido, a biografia é excelente no levantamento de fontes relacionadas ao trabalho de Euclides na Amazônia”, conclui.

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