“O Guarani”, de José de Alencar

Os personagens são conhecidos. Ceci, a mocinha, apaixona-se por Peri, o índio. O romance é tão famoso que atravessou o século e é citado até na canção de Caetano Veloso, “Um Índio”. E, se é tão conhecido, certamente as razões vão além da importância que ele tem nas listas de obras de leitura obrigatória para o vestibular. Por isso, a Ateliê lança a reedição do romance O Guarani, de José de Alencar, que tem prefácio e notas de Eduardo Vieira Martins e ilustrações de Luciana Rocha.

Lançado originalmente em 1857, o romance é um típico representante da fase indianista do romantismo brasileiro, que buscava as fontes de referência de identidade nacional. Na Europa, a busca pelas “raízes nacionais” também era uma característica do período, mas por aqui, essa identidade passava pela representação idealizada dos povos nativos. Em  O Guarani, Peri é um índio forte, de caráter ilibado, com forte senso ético e moral. 

Enredo e personagens

A história se inicia em 1604. O livro é narrado em terceira pessoa e conta a história de D. Antônio de Mariz, que teria sido um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro e é pai de Cecília (apelidada Ceci), e constrói uma grande casa, nos moldes das antigas fortalezas medievais, seguindo um código de vassalagem semelhante ao da Idade Média – e que justifica a lealdade a Portugal. Dentre os moradores da casa, está Loredano, ex-religioso que abusa da cordialidade de Mariz e planeja raptar Ceci.

Aqui, aliás, já se podem notar traços sobre a busca da raiz nacional do romantismo no Brasil com o romantismo europeu: a vassalagem, as raízes político-sociais e a interferência da Igreja no continente Europeu estão retratadas aqui, mas, no romance brasileiro, a questão-chave é a identidade indianista.

O vilão Loredano, entretanto, não conta que Ceci é protegida do índio Peri, que havia salvado a moça de um acidente e, por isso, conquista a amizade dela e de seu pai. Diogo, irmão de Ceci, mata por acidente uma índia aimoré e esses fatos desencadeiam uma guerra entre os aimorés e a família Mariz e coloca Peri em uma situação delicada, já que ele estava vivendo na casa dos Mariz após salvar Ceci. Ao mesmo tempo, Álvaro Sá, amigo da família, também se encanta por Ceci, que continua a ser alvo de Loredano.  

Para tentar acabar com a guerra, Peri se envenena e vai à guerra, sabendo que o aimorés eram canibais e, planejando ser capturado  e devorado pelos índios, tinha a intenção de envenená-los também, matando-os e acabando com a disputa.  É justamente Álvaro quem descobre o plano de Peri e o impede da ação. Mas, a propriedade da família é incendiada e Mariz acaba por pedir que Peri se batize, afim de que ele possa fugir com Ceci e continuar protegendo a amada. E ambos somem no horizonte.

Tudo em O Guarani é idealizado: o índio forte e disposto a fazer um sacrifício sublime pela amada branca, europeia, rica, loura e frágil, uma mocinha inatingível e com aura sagrada. O amor devocional do índio puro – que, ao fim se batiza – se contrapõe à maldade explícita e quase diabólica do ex-religioso; o “amor” que Loredano sente por Ceci, que é diminuído por ser unicamente carnal.

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