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Entrevista com Antônio Suárez Abreu, professor de linguística e língua portuguesa na UNESP

Antônio Suárez AbreuPortal IG

1- Consegui ler a introdução do seu livro e vi que o senhor defende a tese que argumentar não é vencer o outro. Poderia me explicar melhor?

Geralmente, as pessoas leigas têm a falsa ideia de que argumentar é vencer o outro, pondo por terra suas ideias e opiniões.  Em termos retóricos, argumentar é fazer com que o outro tenha condições de ver o objeto da disputa de um ponto de vista diferente daquele a que está acostumado a ver e, ao final, tenha o desejo mudá-lo, concordando com quem argumenta.  Isso envolve, muitas vezes, mudanças de modelos mentais.

2- Quais os principais erros na hora de argumentar?

O principal erro é considerar o outro como um inimigo a ser vencido.  Um outro, muito comum, é abusar da técnica argumentativa chamada retorsão.   (com s mesmo, pois vem de torso).  Na retorsão, quem argumenta tenta mostrar que a pessoa com quem se argumenta pratica ações contrárias às que defende.  É o caso de alguém que, acusado de chegar atrasado, diz algo como: — Mas, você, no mês passado, também chegou três vezes atrasado.  Esse argumento é o mais usado nas chamadas DR (discussões de relação) e é por isso que um casal raramente chega a um consenso.  Geralmente, o homem foge dessas discussões como o diabo da cruz.

3- Teria algumas dicas práticas para dar para quem quer melhorar a argumentação? Quais?

Em primeiro lugar, é importante tratar o outro com educação e gentileza.  Sem isso, nada funciona.  Há um provérbio espanhol que diz: “Por bién, me llevas hasta el infierno; por mal, ni al cielo”.  Em segundo lugar, é importante aprender a ouvir mais e falar menos.  Isso permite saber quais são os valores do outro, principalmente, quais são seus modelos mentais.  Ninguém consegue convencer o outro batendo de frente com seus valores ou modelos mentais.  É sempre importante, antes de propor um argumento, conseguir abrir uma brecha nesses modelos.  No meu livro, trabalho essa ideia quando falo da re-hierquização de valores.  Você não destrói um valor do outro; apenas põe um outro acima, em termos de hierarquia.   É uma espécie de drible.  Um exemplo disso é o que fez Monteiro Lobato em seus livros infantis.  Em sua época, por volta de 1920, o “Modelo do pai rigoroso” imperava e era impossível fugir da sua força.  As crianças deviam estudar, competir, vencer e, se falhassem, deviam ser punidas.  O que fez Lobato para introduzir seu modelo de “escolanovismo” baseado em Anísio Teixeira e John Dewey?  Pôs as crianças em férias, no Sítio do Picapau Amarelo, em um lugar em que a figura do pai ficava ausente e era substituída por uma avó carinhosa, Dona Benta, que podia ensinar sem punir, contando histórias saborosas a Pedrinho e Narizinho.

4- É possível que mesmo uma pessoa extremamente tímida consiga ter uma boa argumentação? Como vencer esta barreira?

Claro que sim!  Ela deve começar fazendo com que o outro fale primeiro e exponha seus pensamentos.  Durante essa fala, ela deve prestar atenção aos valores dessa pessoa.  Se se tratar de uma negociação, ela deve pôr foco, antes de tudo, naquilo que o outro tem a ganhar e não naquilo que é o objeto imediato do seu desejo.  Isso permite uma progressão amigável da fala e é, nesse momento, que cresce a confiança, derrubando a timidez.

5- Existem palavras/técnicas que podem ajudar na argumentação? Quais?

Sim: “por favor”, “por gentileza”, “obrigado por expor tão claramente aquilo que pensa”, “como posso ajudá-lo?”. É preciso trabalhar o tempo todo de maneira cortês e sinceramente comprometida com a imagem do outro.

6- Breve currículo

Sou, atualmente, professor titular de linguística e língua portuguesa na UNESP, campus de Araraquara.  Trabalho na área de Gramática e Retórica.

Sou formado em Letras Neolatinas pela PUC – Campinas.  Tenho especialização em Língua e Literatura Portuguesa pela Universidade Clássica de Lisboa; mestrado, doutorado e livre-docência em Linguística pela USP, onde lecionei por quase 15 anos.  Fiz pós-doutorado em Linguística na UNICAMP, em 2008.

Livros publicados:

  1. Curso de Redação (Editora Ática).  Atualmente em 13ª edição, 10ª reimpressão.
  2. A Arte de Argumentar Gerenciando Razão e Emoção (Ed. Ateliê) Atualmente, em 13ª edição, 7ª reimpressão.
  3. Gramática Mínima para Domínio da Língua Padrão (Ed. Ateliê).  Atualmente, em 3ª edição revista.
  4. O Design da Escrita: redigindo com criatividade e beleza (Ed. Ateliê) Atualmente, em 2ª edição.
  5. Linguística Cognitiva (Ed. Ateliê).
  6. Texto e gramática: uma visão funcional para a leitura e a escrita (Ed. Melhoramentos).  Atualmente, em 2ª edição.
  7. Gramática Integral da Língua Portuguesa: uma visão prática e funcional (Ed. Ateliê, no prelo)

Tenho, também, mais de 50 trabalhos publicados em revistas brasileiras e estrangeiras.  Um dos meus últimos artigos, publicado nos Estados Unidos em 2008, está, desde então, entre os 10 mais lidos em toda a comunidade acadêmica internacional.

Meus trabalhos científicos têm 345 citações, de acordo com a Web Science.  Já orientei e levei à defesa, entre PUC – Campinas, USP e UNESP, 40 mestrados e 40 doutorados.

Conheça os livros do Prof. Antônio Suárez Abreu publicados pela Ateliê

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2 Comentários


  1. BOM DIA , SOU MARIA APARECIDA ACADÊMICA DO CURSO DE DIREITO E VAMOS FAZER UM SEMINÁRIO SOBRE O LIVRO ARTE DE ARGUMENTAR , VOU FALAR SOBRE O AUTOR E GOSTARIA DE MAS INFORMAÇÕES SOBRE ELE ,COMO POR EXEMPLO A DATA DE NASCIMENTO E LOCALIDADE .
    PODERIA ME DAR MAS INFORMAÇÕES, POR FAVOR


    1. Maria Aparecida, encaminhamos sua pergunta, mas ainda não obtivemos resposta do autor.

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