Ficção Interrompida [uma caixa de curtas] e O Altar & o Trono – Dinâmica do Poder em O Alienista são os finalistas.
Ficção Interrompida [uma caixa de curtas] e O Altar & o Trono – Dinâmica do Poder em O Alienista são os finalistas.
O Altar & o Trono: Dinâmica do Poder em O Alienista (Ateliê/Unicamp), de Ivan Teixeira, é o ganhador do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes de 2011. Outorgado anualmente pela Academia Brasileira de Letras e pelo Grupo Votorantim, o prêmio destina-se a “autor brasileiro por obra de qualquer gênero que traga efetiva contribuição à cultura brasileira”. Seu valor este ano gira em torno de 80 mil reais.
Em anos anteriores, ganharam o prêmio: Roberto Campos, Décio de Almeida Prado, Evaldo Cabral, Luiz Felipe de Alencastro, José Mário Pereira e Walnice Nogueira Galvão.
Por meio de minuciosa análise de O Alienista, O Altar & o Trono investiga as relações da ficção de Machado de Assis com o discurso do jornalismo, editoração, política, ciência e religião no declínio do Segundo Reinado. O ensaio resultou de pesquisa financiada pela University of Texas em Austin, onde o autor lecionou Literatura Brasileira como Full Professor por três anos.
Fonte: Revista Veja, edição 2197
Milton Torres, Ivan Teixeira e Emanuel Araújo / Foto: Cecília Bastos
O lançamento do livro O Altar & o Trono, de Ivan Teixeira, aconteceu na Livraria da Vila – Fradique e contou com a presença de Jerusa Pires Ferreira, Milton Torres, Emanuel Araújo, Prof. Antônio Medina Rodrigues e Prof. José de Paula Ramos Jr.
Confira abaixo algumas fotos do evento
Fotos: Cecília Bastos
(por Jerônimo Teixeira)
Como muitos grandes escritores, Machado de Assis (1839-1908) tornou-se o centro de um culto – um culto laico, mas nem por isso desprovido de sua mitologia. A lenda machadiana, em sua versão mais corrente, fala de um homem dividido. Na face pública, era um discreto e acomodado funcionário público, fundador da Academia Brasileira de Letras, saudado por seus pares como o grande mestre das letras nacionais. Um verdadeiro “medalhão”, para usar o termo de um de seus contos. O escritor, porém, pairava além e acima desse figurino convencional: um demônio da crítica social, foi o flagelo da elite monárquica – que, tão perversa quanto estulta, jamais compreendeu a arte irônica e dissimulada contida em obras como Dom Casmurro.
Em O Altar & o Trono (Ateliê/Unicamp; 432 páginas; 79 reais), Ivan Teixeira, professor de literatura brasileira da Universidade do Texas, em Austin, procede a um minucioso exame de O Alienista, uma das obras mais conhecidas de Machado de Assis, e das circunstâncias de sua publicação em um jornal feminino do Rio de Janeiro (sim, o gênio imortal escrevia para uma folha de modas). Concluiu que Machado de Assis nunca foi o revolucionário escondido no armário que certos críticos criaram. Sua literatura, ao contrário, ecoava ideias de parte considerável da elite do tempo. Machado de Assis, o integrado: eis aí uma afirmação que soará como heresia naqueles meios acadêmicos dominados pela literatura ideológica de Machado, especialmente aquela proposta pelo crítico marxista Roberto Schwarz. Não é a única inovação de O Altar e o Trono, obra que desde já se destina a ser referência incontornável na bibliografia machadiana.
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(Por EUCLIDES SANTOS MENDES)
Em entrevista ao caderno Ilustríssima, o professor de literatura brasileira na ECA-USP Ivan Teixeira comenta a novela “O Alienista”, em que Machado de Assis (1839-1908) discute o significado da loucura na sociedade do seu tempo. Teixeira é autor do livro O Altar & o Trono – Dinâmica do Poder em O Alienista (Ateliê/ Editora da Unicamp, 432 págs., R$ 79).
“O Alienista” foi originalmente publicado em 1882, na coletânea “Papéis Avulsos”.
Folha – Como surgiu a novela “O Alienista”, de Machado de Assis?
Ivan Teixeira – Há duas hipóteses. Em primeiro lugar, acredito que “O Alienista” tenha surgido da necessidade do escritor em preencher seu espaço regular em “A Estação – Jornal Ilustrado para a Família”. Esse periódico de moda feminina pertencia a um grupo internacional alemão que editava 20 jornais em 19 idiomas. Quando se tratou de atribuir feição local a ele, criou-se uma seção literária. Machado de Assis tornou-se não só o principal colaborador, mas também uma espécie de editor do caderno. Permeneceu 19 anos nessa função. Essa é uma das hipóteses de meu livro. Em segundo lugar, “O Alienista” explica-se como intervenção artística do autor em questões cruciais de seu tempo como: pretensões da igreja no Estado moderno, intervenção da medicina na vida da cidade, noção de unidade política no Império, conceito de loucura e função social do hospício. Além disso, a novela tematiza a necessidade de equilíbrio diante da moda e da vaidade. Fala também do mau uso da imprensa. Tudo isso é abordado por meio do humor. Integrada à dinâmica do periódico em que foi publicada, a novela pretendia oferecer à nascente elite feminina do Império um modo desconfiado de interpretar questões culturais relevantes para o momento. (Continue lendo a entrevista)