Leia cinco trechos da obra ‘Joyce Era Louco?’, do premiado tradutor e escritor Donaldo Schüler

Com a publicação da nova edição de Finnegans Wake, a Ateliê Editorial reedita a obra Joyce Era Louco?, do premiado tradutor e escritor Donaldo Schüler.

Erasmo de Rotterdam enaltece, em O Elogio da Loucura (Encomium Moriae), a loucura dos artistas, contra deformações da loucura espúria, filha do prazer e do amor livre. Esquirol, o primeiro dos psiquiatras, elenca, no início do século XIX, peculiaridades de maníacos: sensibilidade, ilusões, exaltação, rupturas, ideias soltas, fugazes. Para Diderot, sem um grão de loucura grandes inteligências não há. Atraído pelos artistas desvairados de seu tempo: Breton, Beckett, Fellini, Oshima…, Lacan acompanha atentamente a expressão artística de princípios do século XX.

Em contato, ainda jovem, com a inventiva prosa de James Joyce, o inquieto pensador consagrou um ano de seu aplaudido Seminário, realizado em Paris, ao estudo do romancista irlandês. Lacan atribui a estonteante inventividade de Joyce à mania e lembra que o termo deve ser entendido em sentido psiquiátrico. As investigações que intrigaram seus ouvintes nos levam a refletir sobre psicanálise e invenção literária.

O psicanalista Edson Luiz André de Sousa destacou: “Donaldo Schüler como um exímio esgrimista calcula o golpe às cegas no corpo da língua ao confiar na liberdade poética que o habita”.

O tradutor Donaldo Schüler é doutor em letras e professor livre-docente pela UFRGS. Traduziu Heráclito, Sófocles e Joyce. Como ficcionista publicou Império CabocloO Homem que Não Sabia JogarMartim Fera, entre outros. Pela Ateliê, traduziu Finnegans Wake, trabalho ganhador do Jabuti de 2004, Prêmio APCA de 2003, entre outros. Publicou também pela Ateliê Na Conquista do Brasil, Joyce Era Louco? e Literatura Grega: Irradiações.

Leia cinco trechos da obra:

Ulisses reconquista com o poder da palavra as riquezas conquistadas pelas armas e devoradas pelo mar.

A narração de Ulisses assemelha-se às artes mágicas de Circe. O homem nasce da rebeldia contra os poderes que o superam. A insubordinação de Prometeu é exemplar. A rebeldia do poeta, assombrosa, contra feiticeiros, gigantes e deuses , distingue-se da do homem industrioso. o Poeta faz do infortúnio encanto.

Quem interpreta mergulha no rio das runas que revestem e impregnam o universo. Contemporâneos de Joyce começaram a desvendar os segredos do instrumento que nos permite divagar, pensar investigar e falar.

A consciência desperta interpela, ativa possibilidades, combate o a gente, ávido de consideração pública, de banalidades, Sou consciência quando o percebido tem sentido para mim. A consciência não me propõe um ideal vazio, coloca-me em situação. Atos internacionais constroem a identidade.

O real sem sentido foi legado da desastrosa Primeira Guerra Mundial, catástrofe vivida, pensada e reelaborada por pensadores, artistas visuais, cineastas, poetas, prosadores. Um deles chama-se James Joyce. Incapaz de responder ao real na linguagem da narrativa concatenada, Joyce fragmenta, recusa determinações impostas pela lei da causa e do efeito. Faíscam aproximações de pedaços que se repelem. Sonoridades verbais tomam o lugar do sentido. Circulam estilhaços de unidades rompidas.

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