ENTREVISTA – Laurindo de Salles: “A engenharia, através da inovação, pode solucionar muitas mazelas materiais da humanidade, gerando desenvolvimento econômico”

O conhecimento crescerá com maior velocidade e inovações tecnológicas aparecerão com muito maior rapidez, causando obsolescência de outras hoje dominantes (Laurindo de Salles Leal Filho em entrevista ao Blog da Ateliê).

Ateliê Editorial publica a obra Engenharia, Inovação e Desenvolvimento Sustentável, organizada por José Roberto Castilho Piqueira e Laurindo de Salles Leal Filho. O livro já está à venda no site (Clique aqui). Projeto gráfico de Negrito Produção Editorial e capa da Casa Rex, por Gustavo Piqueira.

Ao longo do ano de 2021, dentro da comemoração dos trinta anos de existência da Academia Nacional de Engenharia, seu Comitê de inovação promoveu uma série de debates e seminários que tiveram como ponto central a temática da Engenharia, Inovação e o Desenvolvimento Sustentável, tendo como fio condutor as oportunidades e desafios postos pelo século XXI.

Em entrevista para o Blog da Ateliê, o professor Laurindo de Salles Leal Filho contou sobre o processo de pesquisa: “Convidamos autores renomados em suas respectivas áreas de atuação”, bem como de escrita da obra: “O livro surgiu como resultado de reflexões sobre apresentações, ideias e debates realizados nas reuniões do Comitê de Inovação da Academia Nacional de Engenharia”. No final da entrevista, o entrevistado, em suas palavras finais, apontou: “A engenharia, através da inovação, pode solucionar muitas mazelas materiais da humanidade, gerando desenvolvimento econômico”. Leia a conversa completa abaixo:

PERGUNTA: Poderia contar como surgiu a ideia do livro?


RESPOSTA: O livro surgiu como resultado de reflexões sobre apresentações, ideias e debates realizados nas reuniões do Comitê de Inovação da Academia Nacional de Engenharia. Os conteúdos levantados, refletidos e discutidos estavam esparsos, demandando uma sistematização racional.

P: E a pesquisa, como foi desenvolvida?


R: Convidamos autores renomados em suas respectivas áreas de atuação (alguns deles já tinham proferido palestras no Comitê), mas também aproveitamos a oportunidade para deixar que jovens talentos tivessem oportunidade de contribuir.

P: Além de ser uma obra importante para a àrea, existe um capítulo interessante, abordado por Júlio Romano Meneghini e Karen Louise Mascarenhas sobre Os Desafios de um Centro de Pesquisa e Inovação em Engenharia para a Sustentabilidade. Poderia resumir sobre o assunto e, assim como, os necessários serviços da Academia Nacional de Engenharia?

R: O modelo de inovação adotado em grande parte do mundo (inclusive no Brasil) é o Modelo da Tríplice Hélice, que envolve Governo, Universidades e Empresas. No caso do Brasil, o governo é representado pela EMBRAPII, cujo presidente (Dr Jorge Guimarães) é autor do capítulo 7. Acreditamos na eficácia desse modelo, mas achamos que o mesmo precisa ser mais divulgado junto às empresas, que poderiam fazer mais uso dele para inovar. Afinal, o governo financia uma considerável parte dos projetos de P&D a fundo perdido. Após apresentarmos o Modelo da Tríplice Hélice (Capítulo 7) resolvemos mostrar como ele se dá na prática. Daí o fato do prof. Júlio Meneghini e Karen Mascarenhas escreverem o Capítulo 8, mostrando que o modelo dá certo.

P: Como será o setor daqui a trinta anos?

R: Através do zeitgeist que permeia as duas primeiras décadas deste século, podemos inferir que daqui a 30 anos teremos uma economia mais verde e uma sociedade mais inclusiva. As ferramentas e facilidades trazidas pela Indústria 4.0 estarão muito mais consolidadas e aprimoradas. O conhecimento crescerá com maior velocidade e inovações tecnológicas aparecerão com muito maior rapidez, causando obsolescência de outras hoje dominantes. O setor empresarial já se prepara para tornar este cenário realidade através do foco nos elementos que formam a sigla ESG (Environment + Social + Goveranance), colimados com os protocolos de Oslo.

PALAVRAS FINAIS:

A engenharia, através da inovação, pode solucionar muitas mazelas materiais da humanidade, gerando desenvolvimento econômico. Basta recursos, foco e comprometimento com resultados. A engenharia é “cúmplice da inovação da magia da arte do Como-fazer”. Todavia, o mundo precisa de um perfil de liderança que promova o desenvolvimento sustentável. O capítulo 10, escrito pelo prof. Bresser-Pereira, exibe um perfil de líderança (gestores do governo e empresas)  capaz de conduzir a humanidade para um mundo mais inclusivo com desenvolvimento sustentável. No caso do Brasil, é mandatório diminuirmos a corrupção e a influência maligna da cultura baseada na Lei de Gerson. Maior transparência nos gastos públicos e melhoria das condições de vida da população. Isto sem falar no respeito ao meio ambiente.

Muito do que se falou no parágrafo anterior é sintetizado num poema que encerra o livro. O poema é intitulado “O País da Eterna Primavera”. À moda das fábulas infantis (Esopo, La Fontaine), exibe uma “moral da estória” nele embutida. Assim, temos a estória de um povo que vivia num habitat muito gelado e sem recursos, mas resistiam bravamente com a esperança de encontrar outro local para morar. Indagam aos sábios que consultavam seus alfarrábios (literatura técnica, o estado da arte) e nada encontravam. Todavia, poetas cantavam que no outono algumas aves migravam em busca de um outro lugar (certamente melhor para se passar o inverno). A engenharia, cúmplice da inovação, construiu um dirigível para que pudessem seguir essas aves e ver para onde iam. O povo embarcou no dirigível e encontrou a terra em que os pássaros se abrigavam. Até aí só sucesso. O problema começou quando os líderes, ao invés de exercitarem a imaginação criativa, deixaram-se contaminar pela fantasia. Ao serem contaminados pela fantasia, começaram a ver a terra que buscavam como um “Jardim do Éden”, País da Eterna Primavera, Terra de Canaã, Eldorado. Contaminados pela fantasia, os líderes deixaram que o povo, ao aportar na nova terra, ficassem somente comemorando a vitória sem pensar no amanhã. Quando chegou o outono nessa nova terra descoberta, as pessoas descobriram que não existia o país da eterna primavera e ficaram numa situação muito ruim, talvez até pior do que no local onde viviam. A moral da estória é que, pra termos um futuro sustentável, precisamos exercitar a imaginação criadora e não a fantasia. Para isto precisamos de líderes que nos conduzam nessa direção de um futuro justo, grandioso e sustentável para a humanidade.

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