Clássica obra ‘O Otelo Brasileiro de Machado de Assis’, de Helen Caldwell, ganha reedição pela Ateliê Editorial

Desdêmona e Capitu, a relação machadiana com a shakespeariana, principalmente nas obras Dom Casmurro e Otelo, é muito bem discorrida por Helen Caldwell no clássico O Otelo Brasileiro de Machado de Assis, que chega à terceira edição pela Ateliê Editorial.

Por muito tempo, prevaleceu nas leituras críticas de Dom Casmurro o tom malicioso sobre a personalidade de Capitu. Helena Caldwell analisa a obra-prima de Machado de Assis afastando-se dessas interpretações machistas e revelando o nexo que o escritor estabelece com Otelo, de Shakespeare. Publicado em 1960, este clássico dos estudos machadianos só foi traduzido para o português mais de quarenta anos depois, chegando agora ao leitor interessado num dos maiores artistas que o Brasil já teve.

No já consagrado capítulo O Caso de Capitu, nota-se a análise definitiva da personalidade da personagem da obra de Machado de Assis: “Mas a verdadeira motivação de todos os atos de Capitu é o seu amor, seu ilimitado amor por Santiago, e o orgulho que tem desse amor. É o seu amor que fortalece sua união conjugal”.

No prefácio, publicado em 1960, à época da primeira edição do livro, a autora e pesquisadora apontou: Neste estudo, tentei obedecer a estas duas injunções do autor. Uma vez que o conjunto da obra de Machado de Assis apresenta a emergência de um intelecto estável e consistente, com ideias e formas que aparecem, reaparecem e se desenvolvem, mergulhei em suas obras para elucidar um único romance. Visto que o próprio Machado de Assis se referiu diversas vezes a Shakespeare com respeito a suas ideias recorrentes, tentei remontar tais referências (pertinentes) a sua fonte”.

Na celebrada obra, pode-se encontrar diversas observações referentes às obras de Shakespeare e Machado de Assis, como nos capítulos, entre outros, A Love Story de Santiago, Lágrimas de Otelo, O Lenço de Desdêmona e já citado O Caso Capitu.

Helen Caldwell (1904-1987) foi pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, ensinando em diversas áreas, como literatura grega e latina. Especializou-se na obra do brasileiro Machado de Assis, traduzindo para o inglês alguns de seus livros como Helena, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires, além de um volume de contos machadianos.

Helen Caldwell

TRECHO DA OBRA

O nome de Escobar – Ezequiel de Souza Escobar – não somente indica seu caráter como também o enlaça diretamente na trama. Santiago, falando de seu filho, explica a origem e o significado do nome “Ezequiel” por meio de duas citações retiradas do Velho Testamento: “Sois perfeito desde o dia em que fostes criado” e “Ezequiel, filho do homem”. Ambas as citações têm o mesmo significado, pois “filho do homem” significa o homem em seu estado perfeito e simples, como saiu das mãos de Deus – em contraste com os homens perversos a quem o profeta Ezequiel tentou devolver a prístina condição de pureza. Embora Santiago coloque suas próprias construções nessas citações, em uma tentativa de persuadir o leitor em relação à ilegitimidade de seu filho, não há razão aparente, pelo menos no caso de Escobar, que convença a não tomá-las por seu valor de rosto (P. 82).

FICHA TÉCNICA

Páginas: 224

Encadernação: Brochura

Ano: 2022

Edição: 3a edição

ISBN: 978-65-5580-028-9

Preço: R$60,00

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