Conheça os livros publicados em 2021 pela Ateliê Editorial

O ano de 2021 está terminando e a Ateliê Editorial, mais uma vez, teve a imensa alegria de publicar obras interessantes, importantes e marcantes para leituras e pesquisas. Venha conhecer alguns dos títulos que já fazem parte do catálogo da editora. Acesse o site da Ateliê Editorial e confira mais (clique aqui).

História de um Livro

Berlim, Viena, Lisboa, Nova York, Rio de Janeiro… 48 edições impressas desde o lançamento simultâneo em Londres e Paris, sem contar as contrafações, reimpressões e reedições. Como explicar um tal sucesso? A partir dessa pergunta, Marisa Midori Deaecto nos convida a uma viagem pela velha Europa, nos tempos da Primavera dos Povos, com o fim de desvelar os bastidores da construção de um livro destinado a corroer as bases das lutas democráticas. Ao recompor a fortuna editorial de De la Démocratie em France, de François Guizot, a autora faz emergir a figura de um grande historiador, jurista e político, que marcou a primeira geração de estudiosos da Revolução Francesa, propôs as linhas mestras do direito constitucional e se tornou o todo poderoso ministro de Luís Filipe, o rei burguês destronado pelo povo na tonitruante Paris de Fevereiro de 1848.

No Limiar da Noite

As horas do anoitecer da vida são as horas do reencontro com os minutos que ficaram para trás. Resíduos do que sobrou nos recantos dos esquecimentos que os grandes e pequenos poderios, no pequeno mundo de cada um, declararam irrelevantes e indizíveis. O que foi apenas gaguejado no correr dos dias. A alienação nossa de cada dia, nos soluços do mal-estar deste tempo do inesperado. José de Souza Martins passou sua vida de cientista social vasculhando as entrelinhas da história em busca das revelações desses resíduos do viver incompleto do homem comum, que ele também é. Neles está o desafio do mistério desta nossa pós-modernidade de irrelevâncias forçadas e persistentes. A do dizer sem falar, do ver sem enxergar, do ouvir sem escutar, do existir sem ser. Ficaram umas notas de rodapé, aqui reunidas sob a forma de crônicas tardias, que explicam o que deixou de ser explicado. Acerto de contas. É melhor não dever nada a nós mesmos.

Graciliano na Terra de Camões

Graciliano na Terra de Camões investiga um momento único na história do intercâmbio artístico entre Portugal e Brasil, em que, ao contrário dos séculos anteriores, a literatura brasileira, sobretudo o romance de 1930, exerceu ascendência sobre os escritores lusos. No caso específico do paradigmático Graciliano Ramos, se, de modo mais recorrente, investiga-se a influência que Eça de Queiroz teve sobre a perspectiva crítica e a produção romanesca do escritor alagoano, privilegia-se, aqui, o caminho oposto: as ressonâncias do autor de Vidas Secas e, em chave mais ampla, do livro brasileiro na terra de Camões, entre as décadas de 1930, 1940 e 1950. Para tanto, Thiago Mio Salla recupera e analisa um leque amplo e desconhecido de documentos – artigos de jornais e revistas, cartas, dedicatórias em livros, manuscritos, relatórios de censura, contratos entre editoras etc. –, de modo a reconstituir e a matizar as diferentes facetas de tal contexto complexo em que se pode observar a inversão do vetor cultural entre o Brasil e sua antiga metrópole.

Amor, Luta e Luto – No Tempo da Ditadura

Amor, Luta e Luto tem por objetivo mostrar um recorte do período da ditadura civil-militar de 1964 a 1985, principalmente durante a fase mais violenta, a fase das prisões, das torturas, dos assassinatos e dos desaparecimentos dos opositores. Denuncia o brutal assassinato de Ramires Maranhão do Valle, ex-companheiro da autora, um jovem pernambucano morto aos 23 anos, no Rio de Janeiro em 1973. Tomamos conhecimento de como eram as ações dos grupos revolucionários de oposição à ditadura, além de mostrar a difícil vida dos militantes na clandestinidade. A autora nos conta sua própria experiência em uma prisão no Recife, denunciando os horrores das torturas sofridas juntamente com os companheiros de luta. De leitura envolvente, com vocabulário simples e tocante ao mesmo tempo, a obra narra a experiência dolorosa de vida, a entrega total da autora ao ideal de liberdade e justiça.

Crise em Crise – Notas sobre Poesia e Crítica

Num certo momento de 2018, numa das suas estadas para lecionar cursos intensivos na Universidade de Coimbra, e em particular no seu Instituto de Estudos Brasileiros, Paulo Franchetti solicitou a minha ajuda para tentar extrair de um conjunto de textos seus de há alguns anos um ou mais livros. Lidos os textos, não me pareceu, contudo, difícil extrair deles o livro que rapidamente ganhou a forma que viria a ser a deste, tal a coerência e coesão de pensamento que anima a escrita de Franchetti sobre a poesia brasileira contemporânea. Dos dois títulos que propus, a escolha acabou por recair, com alguma naturalidade, sobre “Crise em Crise”, ainda que o subtítulo decida pela modéstia e informalismo de uma contribuição que está longe de se resumir a umas “notas”, já que o que aqui está em pauta é de fato uma operação sistemática, histórica e teoricamente informada, de desmonte da doxa poética e poetológica brasileira posterior ao Concretismo [Osvaldo M. Silvestre].

A Mão do Deserto

Neste volume, Paulo Franchetti narra sua aventura solitária, sobre uma motocicleta, até o Atacama. Mas este não é apenas um livro de viagem, embora se estruture sobre um trajeto de 11.000 km. É sobretudo uma obra literária de escopo mais amplo, na qual os vales acolhedores e a solidão da cordilheira e do deserto convocam lembranças, despertam outras histórias que se vão entrelaçando com a paisagem e os imprevistos do caminho, e por fim renovam a conversa interior com os vivos e os mortos. No primeiro capítulo, o leitor se vê no meio do percurso, num dos momentos mais tensos. Mas em seguida, ao virar a página, está longe dali, num centro cirúrgico, acompanhando uma operação. Depois retorna à estrada, para logo a seguir ser puxado outra vez para outro tempo e outro espaço. Embora o livro prossiga sinuosamente, como uma das muitas passagens de montanha que a motocicleta vai percorrendo, a maestria com que se constrói a intersecção dos vários tempos e lugares permite que a paisagem física e humana possa ser apresentada com clareza. Assim, passado e presente se combinam em contida emotividade, sem que nunca o leitor se sinta perdido. Pelo contrário, é conduzido com segurança ao longo do livro, ora viajando na garupa da moto, ora contemplando o percurso do alto de mirantes que permitem vislumbres do conjunto. Para os amantes do motociclismo e para os amantes da boa literatura, este livro é, pois, um lugar de encontro.

Elegia Grega Arcaica – Uma Antologia

Elegia Grega Arcaica – Uma Antologia, edição bilíngue,  apresenta o que para nós é o alvorecer desta tradição poética, cuja recepção até hoje se estende, e os seus principais poetas, no original e em rigorosas traduções de Rafael Brunhara e Giuliana Ragusa. Acompanham-nas textos introdutórios, bem como alentados comentários sobre as nuances poéticas do original e o contexto histórico, linguístico e cultural subjacente a cada poema – esforço raro em antologias deste tipo –, num convite tanto ao leitor contemporâneo de poesia, quanto ao estudante que se inicia nos estudos clássicos.

Em Busca do Paraíso Perdido: As Utopias Medievais

Desde meados do século passado ampliaram-se muito nossos conhecimentos sobre a Idade Média, na qual se reconhece a matriz da civilização ocidental cristã. Mas ainda subsistem múltiplas facetas interessantes a explorar, uma delas a produção utópica da época, que a historiografia tende a negar. De um lado, argumenta-se não ser possível falar em utopia antes de Tomás More ter criado a palavra, no começo do século XVI. De outro lado, afirma-se que as pessoas da Idade Média pensavam demais na perfeição do Além para poderem imaginar uma sociedade perfeita nesta vida. O livro que o leitor tem em mãos mostra, contudo, com refinamento conceitual e erudição, que houve várias utopias na Idade Média, cuja compreensão ajuda a lançar luz sobre não poucos aspectos do Ocidente atual.

Presente

“Em 27 de novembro de 2015, num quarto do Palmer Hotel, em Chicago, minha vida virou do avesso com a notícia da morte do meu pai no Brasil. No mesmo dia, tomado por uma vertigem, comecei a expurgar toda a dor que eu sentia, escrevendo poemas em sua lembrança. Sabia que dali para frente nada seria como antes. Dezembro foi um mês de choro e de escrita ininterruptos. Estes poemas foram, portanto, escritos no calor da emoção. Depois, trabalhados à exaustão no tempero da lucidez. Que eles lhes provoquem o riso, a lágrima e, sobretudo, uma reflexão sobre o bicho esquisito chamado MORTE. Por alegrias que tivemos. Por tristezas que tivemos. Pela VIDA que nos foi dada. Não podia deixar que seus dias por aqui morressem com ele. Entrem! A porteira está aberta.” (Da “Apresentação” do Autor)

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