Trecho da obra ‘Crise em Crise’, de Paulo Franchetti, sobre ‘A Máquina do Mundo Repensada’, de Haroldo de Campos

Haroldo de Campos

O poema a máquina do mundo repensada tem três partes, sendo composto em versos decassílabos dispostos em terça-rima. A primeira parte retoma a representação da “máquina do mundo” em Dante, Camões e Drummond. A segunda expõe os desenvolvimentos da física e da cosmologia moderna (Galileu, Newton, Einstein e Poincaré), que permitiriam superar o modelo ptolomaico presente na construção metafórica daqueles poetas. Na terceira, que tem cerca de metade da extensão total do poema, o poeta propõe erguer-se à contemplação do universo concebido segundo a teoria do Big-Bang.


A forma estrófica, a divisão ternária, a emulação dos modelos e a vontade de apresentar uma visão totalizadora do mundo mostram que o poema é de matriz épica e que A Divina Comédia é sua referência principal. Como a Comédia, este poema se abre no momento do desvio da estrada estreita. Mas, enquanto Dante a perde sem perceber e o seu poema é o relato do périplo necessário à sua reconquista, o poeta de A Máquina, que confessa ser agnóstico e se declara presa da acídia generalizada no fim do milênio, quer voluntariamente extraviar-se da senda monótona do seu tempo, invejando, como antídotos, o perigo e a oportunidade de heroísmo que reconhece no universo de Dante e de Camões. (trecho do texto “Funções e Disfunções da Máquina do Mundo”, de Paulo Franchetti, publicado no livro ‘Crise em Crise: notas sobre a poesia concreta e crítica no Brasil Contemporâneo).

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