Leia um trecho da introdução da obra ‘Elegia Grega Arcaica: Uma Antologia’, de Giuliana Ragusa e Rafael Brunhara, coedição Ateliê e Mnêma

PRÉ-VENDA da obra Elegia Grega Arcaica: Uma Antologia, de Giuliana Ragusa e Rafael Brunhara, uma coedição Ateliê Editorial e Editora Mnêma.

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(O livro estará disponível em 08/11/2021)

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Leia abaixo um trecho da introdução da obra:

O gênero elegíaco e sua terminologia


Este livro trata do alvorecer do gênero denominado “elegia” no Ocidente, na Grécia arcaica, período cujo início é colocado no século VIII a.C., e o término, na conclusão das guerras entre gregos e persas, em 479 a.C., cujo último confronto se deu na Batalha de Plateia. A elegia, de que hoje restam fragmentos – alguns com aparência de completude, se não completos de fato –, foi um dos gêneros poéticos mais cultivados na Grécia e em Roma, em cada lugar tendo assumido características bem particulares.


Modernamente, no entanto, por “elegia” entendemos um subgênero da poesia lírica regulado por uma especialização do conteúdo: em geral, poesia de tema triste, amiúde dada à lamentação fúnebre e às reflexões melancólicas. Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, em seu poema “Elegia 1938”, mostra um “eu” que pratica atos sem sentido e professa sua inadequação e insignificância diante de um novo concerto social e econômico que se desenhava então, matando individualidades e anulando a possibilidade de qualquer vínculo com o mundo. Ainda que inove no conteúdo, o poeta brasileiro lida com a expectativa do seu leitor quanto a um gênero consagrado – chamar a seu poema “elegia” é antecipar o caráter melancólico, lamentoso e, até mesmo, fúnebre dos versos:


[…]

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra

e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina

e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.


Entretanto, a elegia tinha na Grécia certa autonomia em relação aos demais gêneros dito “líricos” na nomenclatura moderna, e nem sempre foi entendida univocamente no correr dos tempos, tendo passado por diversos desenvolvimentos até chegar à sua feição atual. A complexidade e longevidade da elegia fizeram dela o objeto de interesse de pesquisadores das mais diversas áreas: da teoria poética, da história literária, da crítica filológica e da literatura comparada.


Pode-se afirmar que duas tradições florescem concomitantemente para a explicação do termo “elegia” no Ocidente: uma entende o vocábulo em conotação substantiva, definindo um gênero poético que viria a ser conceituado e especializado no âmbito das letras latinas e desenvolvido na literatura europeia. Paralelamente, outra tradição entende a elegia em sentido adjetivo: é elegíaco o discurso de índole reflexiva, nostálgica e emotiva. Com essa adjetivação, “elegíaco” definirá um tipo específico de elocução, de sentimento ou de situação, e passará a integrar o rol de subgêneros líricos.

Elegia Grega Arcaica: Uma Antologia apresenta o que para nós é o alvorecer desta tradição poética, cuja recepção até hoje se estende, e os seus principais poetas, no original e em rigorosas traduções de Rafael Brunhara e Giuliana Ragusa. Acompanham-nas textos introdutórios, bem como alentados comentários sobre as nuances poéticas do original e o contexto histórico, linguístico e cultural subjacente a cada poema – esforço raro em antologias deste tipo –, num convite tanto ao leitor contemporâneo de poesia, quanto ao estudante que se inicia nos estudos clássicos.

Das elegias da Grécia Arcaica (sécs. VIII – V a.C.) ouvimos, entre outras, as vozes de Sólon, criticando os excessos das oligarquias e pavimentando a trilha à democracia; de Tirteu, Calino e Simônides, enaltecendo homens comuns ao status de guerreiros épicos; de Arquíloco, dizendo que melhor do que ser épico é estar vivo; de Mimnermo, celebrando o mundo de Afrodite e seus prazeres; de Teógnis, mostrando as alianças, traições e afetos que agitam um mundo em transformação. Como gênero poético destacadamente versátil, a elegia nos permite conhecer os mais variados aspectos da existência do indivíduo na pólis.

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