Lançamento da obra ‘Graciliano na Terra de Camões – Difusão, Recepção e Leitura (1930-1950)’

Na última quinta-feira (7), aconteceu a live de lançamento do livro Graciliano na Terra de Camões – Difusão, Recepção e Leitura (1930-1950), de Thiago Mio Salla. Além do autor, o encontro virtual exibido no canal no Youtube da Ateliê Editorial contou com a participação de Ieda Lebensztayn, Ricardo Ramos Filho, Luís Bueno e com a mediação de Luciana A. Marques. A obra está à venda nas livrarias e no site da Ateliê Editorial (Confira aqui).

No início do bate-papo, o editor e professor Plinio Martins Filho exaltou a obra de Mio Salla: “Um editor sempre fica feliz quando consegue editar um livro e lançar pessoas iguais o Thiago é sempre um grande prazer. O Thiago é uma dessas pessoas que tem um grande futuro no nosso meio literário e de crítica, além de ser tornar um grande estudioso da literatura brasileira”.

Durante o evento, o autor comentou sobre o processo de pesquisa e escrita, tendo a trajetória do autor de S. Bernardo como escopo: “Para eu entender o lugar do Graciliano [Ramos] em Portugal, eu tenho que entender o livro brasileiro em Portugal. Essa questão que existia a respeito de como a produção editorial chegava em Portugal. É muito interessante me aventurar por esse caminho, daí eu pude constatar uma série de elementos, por exemplo, a gente escuta aqui [no Brasil] que na década de 1930 houve um crescimento exponencial da nossa produção editorial, considerando que ela não seja vultosa, mas no contexto ela teve uma repercussão muito grande e a gente percebe que ela cruzou o Atlântico”. Mio Salla finalizou: “Eu consegui levantar os inquéritos feitos por editores portugueses que estavam apavorados com a chegada do livro brasileiro em Portugal, invertendo ao que seria usual na relação colônia e metrópole, ou seja, os editores [portugueses] tomavam o Brasil como um mercado consumidor. Eles [editores portugueses] começaram a perceber que o mercado vinha diminuindo e, não só isso, o mercado deles estava sendo inundado com a produção de autores brasileiros”.

Assista ao lançamento na íntegra abaixo:

Escrito pelo premiado professor, crítico e pesquisador Thiago Mio Salla,  Graciliano na Terra de Camões investiga as diferentes facetas da recepção e da divulgação da obra do autor de Vidas Secas e, por extensão, do romance de 1930 brasileiro, em Portugal ao longo dos anos de 1930, 1940 e 1950. Trata-se de um período singular, marcado, entre outros aspectos:  pela ampliação, em termos editoriais, da indústria do livro brasileira, o que teria dado início a um processo irreversível de inversão da influência tipográfica entre Portugal e Brasil;  pela emergência, no âmbito artístico, do neorrealismo luso e pela singular presença, em terras portuguesas, da literatura brasileira, algo nunca antes observado no intercâmbio literário entre os dois países; em termos políticos e culturais, pelo esforço de aproximação formal entre os governos de Getúlio e Salazar, que celebraram o emblemático acordo de 1941, voltado à promoção de “íntima” cooperação artística e intelectual entre as duas nações.

Com ênfase nas dimensões jornalística, epistolar e editorial relativas à chegada e à ressonância de Graciliano em Portugal, Thiago Mio Salla procurou observar como, para além de leituras e apropriações feitas quer por neorrealistas à esquerda, quer por estadonovistas à direita, as produções do autor alagoano se firmaram no panorama cultural português e consolidaram seu nome, de modo ampliado, como um dos principais prosadores de nosso idioma.

Graciliano na Terra de Camões constitui-se, portanto, em um trabalho de caráter interdisciplinar que procura conjugar, sobretudo, as áreas de Letras e Editoração, com ênfase em estudos literários e de recepção, história do livro, da edição e do intercâmbio político e cultural entre Brasil e Portugal na primeira metade do século XX. Em chave metonímica, o livro toma o caso concreto da chegada e da difusão da obra de Graciliano Ramos em Portugal para discutir, sobretudo, as relações literárias e editoriais entre os dois países, num contexto pós-revolução de 1930, em que nossos livros e nossa literatura, invertendo o fluxo até então prevalente entre ex-metrópole e antiga colônia, se expandiram pelo mercado e pelo universo cultural português. 

Diante da carência de dados e estudos a respeito do tema investigado, a pesquisa que embasou o livro ora apresentado aos leitores pautou-se pela recuperação e exame de um rol diversificado de fontes primárias. Mais especificamente, contemplou a localização, inventariação e interpretação de artigos, cartas, dedicatórias, livros, encontrados em bibliotecas, hemerotecas e diferentes espólios literários brasileiros e portugueses.

Como complemento bastante rico, o livro ainda apresenta uma compilação de imagens de textos avulsos de Graciliano Ramos publicados em diferentes periódicos lusos, bem como uma proposta de edição anotada de toda a desconhecida fortuna crítica de Graciliano Ramos em Portugal entre os anos de 1930 e 1950. Mediante essa segunda iniciativa de coletar, transcrever, apor notas e normalizar um conjunto variado de artigos e ensaios sobre o autor alagoano e de entrevistas por ele concedidas e publicadas, fundamentalmente, na imprensa lusitana, Salla procurou disponibilizar tal material para outros pesquisadores interessados no estudo da recepção crítica do autor de Vidas Secas ou mesmo do romance brasileiro de 1930 em terras portuguesas.

Thiago Mio Salla é professor do Departamento: Jornalismo e Editoração – CJE . Foto: Cecília Bastos/USP Imagem

O AUTOR

Thiago Mio Salla é doutor em Ciências da Comunicação e em Letras pela Universidade de São Paulo. Enquanto docente e pesquisador da Escola de Comunicações e Artes da USP e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa da FFLCH/USP, dedica-se às áreas de Literatura Brasileira, Teorias e Práticas da Leitura e Editoração. Entre outros trabalhos, publicou o livro Garranchos – Textos Inéditos de Graciliano Ramos (Record, 2012) e Graciliano Ramos e a Cultura Política (Edusp, 2017), bem como, em parceria com Ieda Lebensztayn, as obras Cangaços (Record, 2014) e Conversas (Record, 2014), ambas também a respeito do autor de Angústia.

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