Lançamento virtual de ‘Amor, Luta e Luto no tempo da ditadura’. de Maria do Socorro Diógenes: “essa passagem da História do Brasil teria que ser escrita por várias mãos, principalmente, pelas mãos dos sobreviventes que passaram por todos esses problemas”

Na última segunda-feira (30), na programação do Agosto da Memória e Verdade, promovida pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos do Governo do Estado do Ceará, foi realizado o lançamento do livro Amor, Luta e Luto no tempo da ditadura, da escritora cearense Maria do Socorro Diógenes, publicado pela Ateliê Editorial. O evento, totalmente virtual, transmitido pelo canal no Youtube da SPS Ceará e contou com a apresentação do jornalista e escritor Marcelo Mario de Melo. O debate ficou por conta do professor Airton de Farias, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, pesquisador e escritor; e do presidente da Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou, Francisco Leunam Gomes.

Durante o encontro, a autora falou sobre o processo de escrita da obra: “Eu resolvi escrever esse livro para registrar, realmente, todos os crimes da ditatura”. Ela também comentou que “um dos motivos que me levou a escrever com mais firmeza foi exatamente quando eu comecei a acompanhar os trabalhos da Comissão da Verdade e eu vi que não havia documentos sobre os desaparecidos, sobre as pessoas que morreram por causa das torturas nos porões da ditatura, então, eu tirei a conclusão que essa passagem da História do Brasil teria que ser escrita por várias mãos, principalmente, pelas mãos dos sobreviventes que passaram por todos esses problemas”.

Para a escritora e pesquisadora, o livro é uma forma de mostrar para a sociedade o que foi a ditatura e “nunca mais permitir que volte esse momento de tanta violência e que durou vinte anos aqui no país”. Sobre a Ramires Maranhão, dos tantos desaparecidos durante o período militar, assim como as cicatrizes que nunca sararam nos familiares e amigos das vítimas desses anos de chumbo, tornando-se referências no livro, Socorro Diógenes falou: “ter o conhecimento de que o Ramires não foi um desaparecido e, sim, assassinato pela ditatura provocou a morte da mãe dele, Dona Agrícola, quando ela teve certeza da morte do filho dela, ela teve um enfarto fulminante e não resistiu”. A autora completou: “Mais um crime por tabela e a ditatura não ter assumido esses desaparecidos, foi mais um aspecto da crueldade deles”. Assista ao lançamento na íntegra no vídeo abaixo:

O Livro – Amor, Luta e Luto tem por objetivo mostrar um recorte do período da ditadura civil-militar de 1964 a 1985, principalmente durante a fase mais violenta, a fase das prisões, das torturas, dos assassinatos e dos desaparecimentos dos opositores. Denuncia o brutal assassinato de Ramires Maranhão do Valle, ex-companheiro da autora, um jovem pernambucano morto aos 23 anos, no Rio de Janeiro em 1973.

Tomamos conhecimento de como eram as ações dos grupos revolucionários de oposição à ditadura, além de mostrar a difícil vida dos militantes na clandestinidade. A autora nos conta sua própria experiência em uma prisão no Recife, denunciando os horrores das torturas sofridas juntamente com os companheiros de luta.

De leitura envolvente, com vocabulário simples e tocante ao mesmo tempo, a obra narra a experiência dolorosa de vida, a entrega total da autora ao ideal de liberdade e justiça.

Maria do Socorro Diógenes – é cearense de Jaguaribe. Formada em Letras, iniciou seus estudos na Universidade Estadual do Ceará, em Fortaleza e os concluiu na Fundação Santo André, no ABC, em São Paulo. Participou dos movimentos estudantis de 1968, foi militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, PCBR. Foi presa política em Recife, Pernambuco. Chegando a São Paulo, em 1974, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, PCB. Trabalhou como professora de Português na Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, hoje, aposentada como Supervisora de Ensino. Atualmente, reside em São Bernardo do Campo (SP).

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