“Velhos Amigos”, o mundo é a memória que carregamos das coisas

Por Pedro Fernandes de Oliveira Neto

Das vizinhas ao meio,

Sobre a escada a fiar, uma velhinha,

Naquele ponto onde se perde o dia;

E recordando vai do seu bom tempo

Quando em dias de festa se adornava

E ainda fresca e esbelta

Costumava dançar entre os que foram

Seus companheiros da idade mais bela.

Giacomo Leopardi, “O sábado da aldeia”, tradução de Ecléa Bosi

Desde muito antes de a literatura servir à ciência como repositório para a compreensão sobre determinadas circunstâncias sociais e humanas, formou-se um movimento criativo ao contrário. Isto é, pensadores de campos diversos do saber experimentaram suas ideias através do literário. Os nomes que talvez logo nos saltam da lembrança são os de Albert Camus, Jean-Paul Sartre ou Simone de Beauvoir, pensadores e autores de ficções que animavam os conceitos por ele pensados. Mas, eles não foram precursores desse recurso; se formos aos primeiros livros que se propõem oferecer alguma resposta para inquietações de ordem diversa e uma explicação sobre o mundo e as coisas, encontraremos títulos como A República, de Platão, Émile ou De l’éducation, de Jean-Jacques Rousseau, Diálogo sobre a Religião Natural, de David Hume, La Religieuse, de Denis Diderot, Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, apenas para citar alguns dos textos formadores do que é possível denominar como uma linha criativa no âmbito do literário. A rápida referência aos três primeiros escritores é pela proximidade com o nosso tempo. E porque não apenas fizeram da literatura um campo de experimentação sobre ideias; embora concebessem a literatura como esse repositório do qual se beneficiaram nomes diversos da filosofia, da psicanálise e das ciências sociais, para citar alguns dos campos principais nessa relação, esses pensadores construíram uma obra sem transformar o literário em objeto submetido ao regime do seu pensamento. Sabiam que os discursos que modulam a ciência não são literatura, mesmo que nela se manifestem.

Foi o conjunto de textos Velhos Amigos (Ateliê Editorial, 2019) que deu acesso a Ecléa Bosi nesse seleto grupo de criadores que se utilizaram do seu pensamento na experimentação do literário. Quando este título veio ao público, Memória e sociedade. Lembranças de velhos, certamente seu trabalho mais conhecido, chegava aos 25 anos. Sua reedição, em quase duas décadas sobre esse tempo, chega em boa hora. Para uns poderá ser uma descoberta, como foi para todos em 2003. Mas, essa descoberta, entretanto, não será puro acaso. Os que mantinham ou mantêm um simples contato com a obra teórica de Ecléa Bosi sabem do cuidado com que a autora lida com a linguagem, situando-se sempre numa zona de fronteiras quase desfeitas entre o discurso objetivo da academia e o de inclinação ficcional-subjetiva encontrado com maior reiteração na literatura. Estamos diante de uma autora filha de uma geração que interviu continuamente no rigor acadêmico interceptando-o pelo despojamento do comum, num claro esforço de estabelecimento de diálogo com grupos sociais fora das margens da língua e dos espaços intelectuais sem se descuidar da seriedade e do rigor necessários a qualquer pesquisa.

Uma maneira possível de observar os estreitamentos de um trabalho com a linguagem e o zelo pelos afetos, força ideológica, formal e estilística de sua obra são os laços que a obra acadêmica de Ecléa Bosi mantiveram com os universos criativos do artísticos, permitindo que outros criadores traduzissem essas textualidades em expressões variadas, como o espetáculo Doces Lembranças, produzido pelo Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo a partir de Memória de Velhos ou a função iluminadora de Cultura de massa e cultura popular. Leituras de operárias nas criações do teatrólogo Timochenco Wehbi.

A aproximação com modos de tratamento comuns à literatura não finda no trabalho de manipulação da linguagem científica; Ecléa Bosi foi leitora assídua de ficção e poesia. Só isso pode garantir ao pensador acadêmico modulações fora do tom sisudo recorrente no discurso de seu meio. Herança do trabalho da pensadora que se dedicou a trabalhos de tradução de poesia – Federico García Lorca, Giacomo Leopardi ou Rosalía de Castro numa antologia já escassa entre nós(Editora Nós, 1966) – e mesmo à escrita de poesia, como soubemos com a publicação de A casa e outros poemas (Com-Arte, 2018). Velhos Amigos nos coloca ante seu trabalho criativo com a ficção e não é apenas um experimento no literário – nele intervêm uma quantidade variada de referências de dentro e fora da nossa literatura que nos coloca em contato com outros nomes formadores, certamente, do vasto repertório de leitura da autora: Manuel Bandeira, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Vicente de Carvalho, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, Fernão de Magalhães, Lamartine, Máksim Górki, Carlo Collodi, Hans Christian Andersen, entre outros – nomes pinçados numa visita planar pelos textos reunidos na antologia ora em análise. Essa presença se nota ainda no intertexto, isto é, na retomada de textos diversos citados diretamente ou incorporados ao discurso narrativo.

Mas, por que Velhos Amigos é produto de uma experiência do pensamento teórico da autora pelo literário? A resposta a essa pergunta não é tão simples. Não estamos diante de um mero trabalho de transposição de ideias do campo teórico para o literário, mas de um exercício criativo que deixa o leitor entrever resquícios de um no outro. As possibilidades são muitas: é a reiteração de questões, preocupações, temas e espectros ideológicos; é a atmosfera das narrativas, situações, modulações discursivas; é maneira das descrições; é o itinerário, os afetos e as geografias recuperadas. O leitor nota precisamente um paciente, minucioso e recatado trabalho de tessitura quando percebe nos textos esses variados tons que os determinam: ora como se a própria memória da escritora, vivida, ouvida e imaginada, ora pelas aproximações com o imaginário popular e erudito, ora as concepções muito articuladas com certo apelo pedagógico. Ainda que assuma tons variados, como é esperado no modo narrativo, não deixamos de reparar um continuum vocal, muito bem definido como o tom do ensinamento, à maneira de um narrador antigo que nos coloca outra vez em contato a magia de dizer as coisas envoltas em situações que nos impele ao movimento de aprender pela decifração, pelo exemplo e pela reflexão.

Os fios desse tecido, alguns mostrados acima, formam um conjunto de narrativas que recuperam um tempo imemorial, um passado continuamente revisitado pelos narradores desses textos; suas vozes estão tomadas por um saudosismo mesmo quando as situações recuperadas são difíceis e trágicas. Isso porque toda memória é condicionada por afetos toda vez que interpelada. E as múltiplas vozes recuperadas pela escritora são determináveis pelos resquícios de suas vivências e das vidas com as quais cruzou nos seus itinerários de pesquisa. Velhos Amigos é um agradabilíssimo reencontro com as memórias daquelas personagens de seu principal trabalho acadêmico; é o demonstrativo de que o distanciamento objetivo reiterado pelo discurso acadêmico é moeda ultrapassada: os nossos objetos de pesquisa são constituídos pela força da paixão com a qual nutrimos nossos interesses e depois de longo tempo de convivência conosco se nos infiltram e tornam parte de nossa existência, respiram do mesmo ar que respiramos, nos determinam, influenciam na compreensão e organização do nosso mundo.

Se no território acadêmico esse distanciamento fora colocado em xeque, aqui, Ecléa Bosi se permite à liberdade só possível no literário. Vale recuperar o primeiro texto dessa antologia, “Ao alcance da mão”. Este título situa o leitor que os episódios recuperados passam da memória e alcançam à ponta dos dedos e da caneta que os recriam como literatura. É uma narrativa com cariz introdutório – o que significa dizer que, embora diversas, as histórias ocupam certa ordem e estão alinhavadas por um único fio: tenta responder uma pergunta que, uma vez colocada no interior da própria narração, logo transforma o texto em metatexto. A pergunta é “de onde vêm as histórias” e a resposta é dada contando uma história: “Uma jovem certa vez perguntou ao educador Paulo Freire como ele havia conseguido entender gente de tantos países e ser admirado por povos de línguas e culturas tão diferentes. Ele revelou um segredo. Quando menino, nas ruas e pontes da sua cidade do Recife, vivia conversando com velhos, mendigos, vendedores ambulantes.” Essa constatação parece servir ao itinerário que se segue. “Se conto histórias”, diz na continuação o mesmo texto, “é porque em longas caminhadas precisava distrair meus amiguinhos”; e acrescenta: “O que está escrito neste livro sempre esteve ao alcance da mão, e, se lhe alegra saber, tudo é verdadeiro.”

As vozes que falam em Velhos Amigos são as da experiência. De um narrador que durou muito tempo em sua própria terra e uma vez em terras alheias se aventurou em ouvir as personagens com raízes das mais profundas com o lugar onde viviam. Podemos, assim, dizer que a Ecléa Bosi desses textos é a pesquisadora, muito tempo depois de seu interesse pelas histórias de velhos, transformada ela própria em velha contadora de histórias. Assume-se então em pelo menos dupla persona, a que reinventa o acontecido consigo, o vivido, e a que revive as histórias de outros. Esse narrador assume posições diversas: preocupa-se com a degeneração da memória, com o papel da experiência na formação dos laços interpessoais, com o registro de vivências situadas num tempo não contaminado pelo imediatismo e com o trabalho contínuo da tradição de fazer permanecer no outro os eventos da história, não só os agradáveis mas os traumáticos. Ou seja, o fio único que alinhava as narrativas dessa antologia é o que compreende a história não como um tempo estanque e irrepetível e sim continuação e passível de repetição.

É por isso que se preocupa em revisitar episódios dos mais terríveis, como os campos de concentração levantados pelo nazismo ou o ataque dos Estados Unidos a Hiroshima; contados pela voz do sobrevivente, esses relatos ressaltam em desencanto o peso do horror na história e o papel dos habitantes do presente em não deixá-lo cair no esquecimento sob ameaça de retorno à barbárie. Com o mesmo sentido, agora para ressaltar os exemplos positivos, faz de figuras históricas em personagens importantes; é o caso da presença já citada dos escritores da literatura nossa e estrangeira, de Paulo Freire, de Dom Helder Câmara, Câmara Cascudo, Aleijadinho ou Santos Dummont. Se imiscui claramente certo propósito educativo, como dissemos, visível este no tom moralizante de algumas narrativas. A pedagogia do exemplo não é uma puramente pedagogia; perfaz a cor mais natural do fabular, que é, como se sabe, o espírito mais original da literatura. Podemos ampliar essa perspectiva observando que as narrativas reunidas nessa antologia buscam catar o perdido ou em vias de se perder como se conseguir isso seria devolver ao leitor parte de sua identidade, afinal, o que nos define passa pelo vivido e o seu reconhecimento enquanto elemento participativo na transformação das coisas e mesmo das outras vidas posteriores. Prevalece, assim, certo traço de uma coletividade constituída pelo entrecruzamento de uma rede saberes, algo que não deixa de se mostrar em crise pela maneira como algumas narrativas reiteram certa modificação da natureza e dos ambientes urbanos ou ainda a falha da memória.

O impacto do falso progresso, este que nega a natureza enquanto continuidade do homem, se apresenta de diversas formas nessas narrativas: da destruição da natureza naqueles textos de forte apelo ambiental ao descarte de vidas nos asilos como se fôssemos em velhos o refugo de uma sociedade cegamente guiada pelos princípios da produção, dos distanciamentos nas relações entre jovens e velhos à nossa relação com a nossa e a memória alheia. Essas, algumas das preocupações entrevistas ora pela maneira como se é recorrente nas sociedades do alto capitalismo ora pela via contrária, isto é, quando personagens atuam na contramão dos novos paradoxais costumes são outras das questões que formam o conteúdo de Velhos Amigos. Todos esses textos se revestem de um lívido frescor, por vezes se oferecem como se uma crônica, outras de um triz autobiográfico, outras de uma ironia sobre nossas obsessões, outras de certo cariz antropológico saudado por Adélia Prado no breve texto colocado na abertura do livro. A poeta mineira reconhece-se na sensibilidade de Ecléa Bosi para o miúdo e a capacidade de presentificá-lo através da escrita – na certa está atenta ao traço de poesia que ilumina sensivelmente a prosa nos momentos que o leitor não deixará de se mostrar tocado pelas descrições, revelações, ou fulguração dos sentidos sobre o mundo, seus habitantes, os gestos e as coisas. Isso porque essas infiltrações poéticas assumem também um valor exemplar, o de nos propiciar uma visita aos meandros da existência ao mesmo tempo que nos colocam em contato como uma metafísica do homem. Há nisso uma clara aproximação com a poesia de Rosalía de Castro, pela maneira como Ecléa Bosi fabula o particular e o transitório, sempre atenta ao simples e porque nele repousa o sublime, o que atinge o cerne da natureza humana e a revela enquanto a beleza terrível de existir.

Não é apenas a memória de velhos que se mostra nos textos de Velhos Amigos. O olhar da autora se debruça para um cotidiano atulhado de coisas em vias de esquecimento, para solidão das coisas carregadas de afetos por contar ou ainda vivas portas de acesso a esse mundo outro fundamental às nossas existências: o fabular – um quadro, um retrato, a casca de uma árvore, uma estrela de tecido de Auschwitz, uma bengala, o livro antigo. Esse trabalho singular com o resíduo se assemelha ao do próprio poeta na contemporaneidade, uma vez que, sua função num mundo desatento para a memória das coisas porque seduzido pelo valor do novo e da novidade tem sido a de refigurar a existência daquilo que sem-valia e descarte; sua tarefa, se antes era a de oxigenação da linguagem, para reiterar um termo de Umberto Eco, é, agora, também a de retransmissão dos sentidos. Em “As Crianças de Parma”, é o contato da criança com uma litogravura que favorece a transmutação da cena pictural em realidade; em “Objetos e pé”, para recuperar mais um exemplo, as lembranças de menino ativadas por uma fotografia de coqueiros impele o velho Teófilo à obsessão pelo sonho de infância de uma ilha, espécie de paraíso outro, que é, no fim de tudo, ele próprio.

Se antes dizíamos que a escritora não perde o tom professoral ao nos propor uma reabilitação da memória biográfica e histórica para o não esquecimento do passado, também para a compreensão do presente e, consequentemente, uma revisão sobre o futuro e que isso guarda certo interesse de restauro de uma coletividade em decomposição, aqui podemos ampliar esta leitura. É sua preocupação uma reaprendizagem dos sentidos, uma reeducação pela sensibilidade, a única possibilidade de acesso ao que o cotidiano da pressa, do refugo e do entulho não nos deixa ver. Tal reeducação só pode ser oferecida pelo artístico, como referido em Velhos Amigos enão somente pela literatura, como citado, mas por outras expressões como a música, a pintura, o teatro, a dança e as manifestações populares. Tudo isso tem um desígnio muito claro: são os objetos artísticos que nos colocam em contato com a dimensão humana de nós próprios, esse que nos diferencia do animal em sua forma não-domesticada, além de constituir em elemento fundamental às nossas memórias. Um povo sem arte é um povo sem memória. E o apagamento da memória pode significar o endurecimento dos afetos, a banalização do mal e a condenação de uma sociedade à barbárie – talvez já não precisemos ir muito longe no tempo para saber disso, mesmo assim, há situações num passado igualmente não-distante fundamentais de mantê-las redivivas e isso só é possível pela memória.

A grande imagem que nos é oferecida pelo diálogo entre peças muitas vezes tão diversas (a crônica de costumes, social e histórica, a anedota popular, o episódico, o autobiográfico, o conto de exemplo, a fábula, o registro antropológico) compreende um instante entre um passado e um presente que se habilita negá-lo. Essa observação pode ser compreendida na imagem simbólica oferecida em textos como “Em Ouro Preto”, em que o tom autoconfessional descreve por entre sendas de um breve relato de viagem o contato com os prédios de Belo Horizonte que taparam o horizonte, o trânsito que expulsou de suas ruas as crianças, os oleiros e as cirandas. A cidade do interior mineiro é que fará a viajante não só corroborar com os versos de Carlos Drummond de Andrade – “Minas não há mais”, como reexperimentar seu avesso, pelos sentidos do passado; Ouro Preto é vista como a cidade que resistiu o mal do progresso por baixo dos cobertores de serra e a resistência dos moradores que se ofendem com o olho interesseiro do turista enquanto pulula com o frevo dos jovens estudantes, estes que são vistos como a vida da cidade à noite e numa cena tanto bucólica quanto revestida de uma nostalgia de um ajuntamento deles ao redor da estátua de Tiradentes reflete a narradora: “Bem que eu gostaria de sentar-me com eles, mas os degraus eram alto demais”. O recorte desse episódio no final destas breves notas é para observar que as narrativas de Velhos amigos estão profundamente marcadas pelos sentidos de uma palavra citada logo acima: nostalgia. A sensação de saudade idealizada associada a um desejo sentimental de regresso define “Em Ouro Preto”, que pode ser lido como uma síntese da atmosfera que envolve as circunstâncias que formam este livro sobre memória-vivido, memória-sonho, memória-trabalho, ou apenas o tempo paralaxe da memória.

Para Ecléa Bosi a sociedade se constitui das vivências dos velhos (o título da antologia reafirma essa tese), do trabalhador comum. É dela a afirmativa de que: “Os feitos abstratos, as palavras dos homens importantes só se revestem de significado para o velho e para a criança quando traduzidos por alguma grandeza da vida cotidiana”. E é o que se mostra nessa antologia. Permita o leitor, apenas um exemplo a mais que justifique isso. Em “Aventura nos confins do mar”, outro texto dos mais bonitos de Velhos amigos, o leitor encontra a seguinte situação: os avós, muito simples, que modificam sua rotina de trabalho levando o neto para passear; pela viagem, compram-lhe uma bola; uma vez na praia, o objeto é arrastado pelas ondas, o que demanda um esforço hercúleo do frágil avô na tentativa de recuperá-lo. Fique apenas com esses episódios, sem o desfecho – são suficientes para perceber no literário o desenvolvimento da ideia da pensadora. Na mesma linha, o leitor não pode deixar de perceber que o trabalho da escritora se reveste do mesmo princípio aqui definido: só alcançamos seu grande feito pelo enredamento do cotidiano.

Este mapa de afetos, reafirmamos, volta em boa hora; seus lugares nos retiram do bulício corriqueiro para um mundo não-visto e um tempo cada vez mais escasso em decorrência de uma abjeta ditadura da informação produto do apelo radical de um modelo social que se impõe cada vez mais ignorando a dimensão humana que nos define. Depois da travessia por esses territórios, podemos reaprender os sentidos – não é esta outra das principais dimensões da literatura, patente desde os gregos, nos proporcionar um acesso ao negado pela realidade imediata? Comecemos, então, por Velhos amigos. É nossa vez de ouvir o que tem a dizer aquela que durante toda uma vida nos propôs ouvir os negados de falar. Uma reeducação dos sentidos passa pela revisão e ainda reaudição. O círculo se abre (nunca se fecha, aliás, porque continuidade) – quem nos chama é Ecléa Bosi.

Pedro Fernandes de Oliveira Neto é professor de Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Tem Doutorado em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem na Universidade Federal do Rio Grande do Norte com pesquisa sobre a obra de José Saramago e António Lobo Antunes. Coordena o Grupo Estudos Sobre o Romance; e integra o Grupo de Estudos Críticos da Literatura. É autor de Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago (Editora Appris, 2012). Dirige o blog Letras in.verso e re.verso, a revista de poesia 7faces e a Revista de Estudos Saramaguianos.

Deixe uma resposta