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O Diário de Bordo do Velho Chico: um roteiro da vida real

Por: Renata de Albuquerque

Autora de O Velho Chico ou A Vida É Amável – livro homônimo à novela das 21h da Rede Globo, que estreia hoje, Dirce de Assis Cavalcanti diz que a viagem que fez na região, durante os anos 70, foi “um divisor de águas”. A sinopse e o enredo do livro O Velho Chico foram escritos a partir de uma experiência marcante, cheia de personagens, símbolos e histórias inesquecíveis. Acompanhe abaixo o que a autora diz sobre essa experiência:

Capa do livro de Dirce de Assis Cavalcanti
Capa do livro de Dirce de Assis Cavalcanti

Como teve a ideia de escrever o livro O Velho Chico?

Dirce de Assis Cavalcanti: A viagem pelo Velho Chico a fiz a trabalho. Era, na época, Diretora do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura, em Brasília, e decidimos fazer uma exposição com as Carrancas do rio São Francisco.

Qual a importância das carrancas no enredo do Velho Chico?

DAC: Preciso dizer que é o único rio do Brasil em que existiram, nasceram, procriaram, a princípio surgidas das mãos e da imaginação do velho Guarani, que “retirava do mato o pau que já vinha pronto”, como ele contava, e então era só ir descascando a cara, os dentes, a cabeleira, e a carranca pronta, primeiramente utilitária, depois ornamento, se tornava um símbolo, o símbolo do Velho Chico.
Destinadas a assustar os monstros aquáticos que os caboclos tanto temiam, eram colocadas na proa das embarcações, e quanto mais ameaçadoras fossem, melhor cumpriam sua missão.

A novela Velho Chico, que estreia hoje, tem o mesmo cenário de seu livro. Por que acha que essa região é tão marcante?

DAC: Para mim, como relato no “diário de bordo”, a vida se dividiu entre o antes e o depois do São Francisco. Conhecer aquela gente extraordinária na sua pobreza, no asseio de suas casas de chão de barro liso, como que encerado, na sua generosidade, coragem e simpleza, foi um presente dos céus. Sobretudo a população mais distante do mundo, na margem esquerda, é muito surpreendente. Uma mulher alta e magra, como eu conto no livro, que ia pagar promessa em Bom Jesus da Lapa para que lhe curasse uma papeira, me deu o significado da vida, numa frase, dita depois de contar tantas misérias por que passou, a perda do marido e de onze filhos por doença e má nutrição, ela, Ambrosina, me disse: …”mas a vida é amável, não é dona menina?”

Não vou dizer mais nada, está tudo no livro…

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