Leila Guenther fala do processo criativo de Viagem a um Deserto Interior

Livro de poemas e haicais, que acaba de ser lançado pela Ateliê Editorial, trata de temas como solidão, fuga e libertação. Confira abaixo entrevista com a autora

Leila2Quais as suas motivações para escrever poesia e não prosa, por exemplo? E quais as motivações para escrever Viagem a um Deserto Interior?

Leila Guenther: Comecei escrevendo prosa. Contos, mais especificamente. Publiquei O Voo Noturno das Galinhas pela Ateliê Editorial, que acaba de ser lançado em uma edição portuguesa. E participei de antologias de contos. Depois houve a necessidade de experimentar outras formas, mas também a percepção de que os contos que escrevia, os mais breves, pelo menos, estavam próximos da poesia. Na verdade, mais próximos da poesia que da prosa. Isso me permitiu me aventurar pelo gênero. E, quando surgiram os esboços de Viagem a um Deserto Interior, me dei conta de que não havia outra forma para aqueles textos que não fosse a poética. As motivações para escrever – qualquer coisa – são sempre de ordem íntima. Escrevo porque é um jeito de estar por inteiro no momento presente.

O que você leu que serviu de inspiração para se tornar uma poeta?

L.G: Não me vejo como “poeta”. Não me vejo sequer como escritora. Nem todo mundo que cuida de doente é enfermeiro. Sou, antes, uma leitora. Uma amadora, no bom e no mau sentido. E, como gosto de observar e de aprender, tudo me serve de inspiração.

Como sua atividade acadêmica influencia a sua produção literária?

L.G: Não tenho atividade acadêmica, propriamente dita, mas como trabalho no mercado editorial, principalmente com material didático, acabo tendo a oportunidade de ler muita coisa que não leria, não fosse por isso. E, claro, essas leituras me influenciam, me fazem pensar, aguçam minha curiosidade.

Você prefere não usar formas fixas, como soneto?

L.G: Não se trata de preferência. Nunca pensei a respeito. Mas no livro há muitos haicais e, embora eu não tenha preocupação com o número fixo de sílabas – cinco/sete/cinco, eles não fogem muito disso.

Imagem2Viagem a um Deserto Interior foi desenvolvido a partir de um material que você já tinha ou você decidiu escrever o livro e então passou a produzir os poemas? Quanto tempo você demorou para reuni-los/escrevê-los?

L.G: Eu tinha escrito alguns textos e, como no caso de O Voo Noturno das Galinhas e do livro de contos que acabo de terminar, percebi que eles se articulavam, que as temáticas se relacionavam para compor um todo. Concluí o livro muito mais rapidamente do que esperava. Dois anos, mais ou menos, o que, para mim, é um recorde. A execução de Viagem a um Deserto Interior coincidiu com uma fase de transformação profunda por que estava passando, que me fez sentir muito mais livre para escrever. Foi uma mudança tão grande que já tenho praticamente pronto mais um livro de poemas.

O que você pode nos dizer sobre a escolha dos temas da obra?

L.G: Viagem a um Deserto Interior é um livro de poemas e haicais dividido em cinco partes: Paisagens de Dentro, O Deserto Alheio, Castelo de Areia, Um Jardim de Pedra e A Possibilidade do Oásis. Tais partes relacionam, respectivamente, drama interior e solidão; o Outro, lugares estranhos/estrangeiros e o desejo de fuga para regiões distantes; observação minuciosa do ambiente doméstico; o ambiente urbano, a natureza e o caminho do zen-budismo; e, com alguma ironia, a lembrança do amor e o desejo de libertação.

Qual é, para você, a importância das ilustrações de Paulo Sayeg na obra?

L.G: Faz mais de quinze anos que me identifico com o trabalho dele. Seus traços são magníficos e se combinaram aos textos, enriquecendo-os. Foi a realização de um sonho.

Viagem a um Deserto Interior foi selecionado no Programa Petrobras Cultural 2012, correto?

L.G: Sim. Foram 1452 inscritos em Produção Literária e Viagem a um Deserto Interior ficou entre os 17 contemplados.

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