Poética Múltipla

Mario Bresighello | Folha de S. Paulo | Seção: Guia Folha | Pág. 3/15 28 de fevereiro de 2015

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O poeta Francesco Petrarca (1304-1374) foi o primeiro escritor da literatura italiana cujos manuscritos e esboços chegaram até nós. Isso permite compreender as etapas do seu processo criativo, no qual impunha aos textos constantes correções, revisões, cortes, acréscimos e mudanças, muitas vezes alterando-os tanto na forma como na estrutura.

O ápice desse processo é o Cancioneiro,  obra que levou 40 anos para ser finalizada. Logo obteve um sucesso vastíssimo e tornou-se um modelo não só na Itália, mas em toda a Europa. Sua importância pode ser medida pela influência que exerceu ao fundar uma das mais importantes e duradouras tradições literárias que reverberou nas gerações seguintes de poetas e continuou a ser imitada ao longo dos séculos.

Em sua forma definitiva, como o conhecemos hoje, o conjunto de composições aparentemente autônomas do Cancioneiro é formado por um proêmio e por 365 poemas. Ao concebê-lo, Petrarca lançou mão de múltiplas formas poéticas, “no vário estilo que eu razoo e choro”, como baladas, sextinas, madrigais, canções e sonetos.

Nos 317 sonetos do livro, aperfeiçoa e eterniza a forma herdada de Giacomo da Lentini, poeta italiano do século 13, e que também fora usada por Dante Alighieri. Os poemas agrupam-se com precisão para traçar um desenho narrativo feito de reflexões e de análises de sentimentos.

Protagonista absoluto do Cancioneiro é o proprio poeta, um eu dilacerado e dividido em que convivem, sem se anular, paixões terrenas (o amor por Laura, o desejo de glória), desejos sexuais que se se contrapõem ao sentimento religioso e aspirações de pureza.

Esta nova tradução vem acompanhada de cronologia, de discretas ilustrações e de uma interessante introdução em que o tradutor, o poeta e ensaísta José Clemente Pozenato, explica as motivações de sua empreitada.

Conheça aqui a obra Cancioneiro, de Francesco Petrarca.

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