O pioneirismo homossexual

Redação | Jornal do Commercio | Seção Geral | Pág. 12 | 12 de outubro de 2014

 

756_01 (1)Na segunda metade do século 19, a literatura romântica entrou em declínio junto com seus ideais. Os escritores e poetas realistas começaram a olhar o mundo com desencanto e a idealização romântica foi substituída pela visão racional e materialista. O escritor passou a ser um observador imparcial dos seus personagens. A pobreza na cidade do Rio de Janeiro, a prostituição, e como características desta fase, podemos citar o objetivismo, linguagem popular, trama psicológica, valorização de personagens inspirados na realidade, uso de cenas cotidianas, crítica social e visão irônica da realidade.
É o caso do livro “Bom Crioulo”, de Adolfo Caminha. Aquele que foi a expressão máxima do naturalismo dentro do realismo, em edição recente da Ateliê Editorial. A primeira edição é de 1895 e foi recebida com escândalo pela crítica literária e silêncio pelo público. Foi tido como ousado pela abordagem do tema homossexualidade, ainda mais em ambiente militar (por sinal, o livro é considerado o primeiro romance homossexual da história da literatura ocidental) e não teve divulgação, pois comentava comportamentos que a sociedade, mesmo sabendo existir, teimava em ignorar. Na história, Amaro, o personagem principal, é um escravo foragido que anseia ser dono de seu próprio destino. É aceito como marinheiro, o que lhe permite realizar o seu sonho de liberdade e que, associado ao seu físico imponentemente muscular, “sem um osso à vista”, claramente mais possante que o dos outros marujos, o transforma em alguém voluntarioso e benevolente, de tal forma que recebe a alcunha “Bom Crioulo“. Os problemas começam quando Amaro se apaixona por Aleixo, um belo grumete adolescente louro, de olhos azuis. Adolfo Caminha também critica em sua obra a disciplina usada em navios da Marinha, o uso da chibata, castigo que só foi abolido com a Revolta da Chibata ocorrida em novembro de 1910.
Em sua trajetória como escritor, Caminha ainda colaborou com a imprensa em jornais como Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio e criou o semanário Nova Revista. Morreu prematuramente de tuberculose em primeiro de janeiro de 1897.
Falar de literatura brasileira é sempre muito gratificante e nos lembra as Escolas Literárias que têm início com o Quinhentismo, as crônicas informativas e os textos catequéticos dos jesuítas, seguida do Barroco que, influenciado pela contrarreforma, viveu o antagonismo de ideias, os paradoxos e as antíteses presentes nas obras do movimento que revelam a tentativa do homem em conciliar fé e razão. O Arcadismo surgiu com as ideias libertárias do iluminismo que impulsionaram uma produção poética onde valoriza a harmonia e o resgate de elementos da antiguidade clássica. O Romantismo que nasceu com a modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real portuguesa, em 1808, e a Independência do Brasil, em 1822. São os dois fatos históricos que influenciaram a literatura do período. Como características principais temos: individualismo, nacionalismo, retomada dos fatos históricos importantes, idealização da mulher, espírito criativo e sonhador, valorização da liberdade e o uso de metáforas, e que tem como seu expoente máximo o grande José de Alencar com suas obras inesquecíveis. Qual é o leitor que não lembra de “Iracema, a virgem dos lábios de mel”? ou “O Guarani”? Não é à toa que temos como o Dia da Literatura, 1º de maio, uma homenagem ao aniversário do mais famoso representante do romantismo, José de Alencar. Sucedendo o romantismo temos o realismo/naturalismo no qual se enquadra o livro de hoje. Literatura Brasileira é sempre recomendada.

Conheça mais sobre a obra Bom Crioulo

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