Soalho de Tábua – Reinações sobre Adélia Prado

Soalho de Tábua, cujo subtítulo é Reinações sobre Adélia Prado, surgiu da ideia de trabalhar com o universo da poeta mineira. O autor partiu de versos da escritora para criar os textos, trazendo à forma narrativa um pouco da poesia do cotidiano construída por Adélia ao longo de sua trajetória literária. O projeto surgiu de um edital do Ministério da Educação que pedia textos para adultos recentemente alfabetizados, entendendo não haver livros para este crescente grupo de pessoas. A tentativa de aproximar a poesia da prosa tinha o duplo objetivo de criar histórias breves e apresentar Adélia Prado aos leitores. A partir de então, novos textos foram escritos, alguns em Portugal, no período em que o autor viveu naquele país, resultando no volume agora lançado.

No livro há a participação do artista plástico Enio Squeff, que ilustrou alguns contos, além de ter realizado uma aquarela para a capa, e um texto introdutório de Moacyr Scliar:

São contos curtos, esses. O conto normalmente deve ser curto, mas estas histórias chamam a atenção pelo minimalismo quase poético. O outro aspecto que as aproxima da poesia, sobretudo da poesia de Adélia Prado, é este: são narrativas tão importantes pelo que dizem como por aquilo que deixam subentendido; tão importantes pelas linhas, como pelas entrelinhas. Moacyr Godoy Moreira cria um território comum com o leitor onde este pode, ainda que sem escrever, exercer também seu poder de criação, respondendo aos desafios que estão na história, desafio este que nada tem a ver com o “Decifra-me ou te devoro”, da Esfinge, mas é antes um convite: decifra-te, e descobrirás coisas surpreendentes. (do prefácio de Moacyr Scliar)

No livro, Moacyr Godoy Moreira percorre o universo doméstico, com histórias como a que dá nome ao livro, nas quais reminiscências de infância surgem como retratos antigos, porém fundamentais na construção do hoje que se alimenta destes retalhos do passado. Há impressões sobre as mazelas e as alegrias deste planeta onde se chora mais que as águas denominadas mar, como descreve Adélia Prado. Há cotidianos imaginados e circunstâncias que poderiam fazer parte da biografia de qualquer um que se percebe sensível ao seu em torno, a nuances que por vezes parecem banais, porém que constroem a afetividade e delineiam as relações, como no fragmento abaixo, retirado do conto “Enquanto Ela Dorme”:

A lentidão da manhã espraia-se pelo horizonte que se espreguiça e se acomoda em cores e luzes suaves. A serenidade das águas na praia, que neste momento sequer marulham, sequer emitem qualquer sonido de exasperação, despeja-se do gesto quase imperceptível da mulher que, singela, doce, bailarina, ensaia um prenúncio de despertar, mas recua, luz sonâmbula a incidir por entre as frestas da persiana, carinho generoso da brisa, que antecede o mormaço das primeiras horas do dia neste verão que ilumina as gentes com a potência de mil sóis. (trecho do conto Enquanto Ela Dorme)

Moacyr Godoy Moreira é médico formado em 1997 pela Unifesp (Escola Paulista de Medicina), e atualmente aluno de doutorado em literatura brasileira na Universidade de São Paulo. O autor lançou anteriormente os livros Lâmina do Tempo (contos, 2002); República das Bicicletas (crônicas, 2003) e Ruídos Urbanos (contos, 2008), todos pela Ateliê Editorial.

R$ 27,00 | 120 páginas | 13,5 x 21 cm | ISBN: 978-85-7480-548-1

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