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O grito dos porcos: Memória Futura no Estado de Minas

Fonte: Pensar| Estado de Minas

Memória Futura, último livro de poesia de Paulo Franchetti, foi resenhado por Anelito de Oliveira para o jornal Estado de Minas. Leia alguns trechos:

O horizonte preferencial da poesia sempre foi o presente, mesmo, ou sobretudo, no seu “momento futurista” (Perloff). São apreensões do presente que movem as vanguardas das primeiras décadas do século 20 – reverberar na escrita, por exemplo, a velocidade das máquinas.

Memória futura, coletânea de poemas de Paulo Franchetti publicada pela Ateliê Editorial, apenas aparentemente abre mão do tensionamento do presente. No fundo, evoca uma perspectiva de futuro para se relacionar de modo mais crítico, digamos, com o presente – e o mais candente presente, o agora.

Pode-se dizer que Memória futura consiste num renitente esforço de presentificação desse lugar por signos de organicidade, de naturalidade, como carne (“Ouvir o chamado da carne”), terra (“Colocava a terra dentro dos vasos”), fogo (“Todos os fogos queimam”) e sangue (“O sangue insiste/ Como um pensamento”).

Nas conversas que trava com seus “precursores” remotos e recentes – Yeats, Hopkins, Pound, Hilda Hilst e Ana C. –, percebe-se, especialmente, a fatalidade como traço da relação entre poeta e mundo, como o estranho está fadado a se esbarrar nos muros do “bios”, em todos os sentidos, da vida.

Num dos mais belos poemas desta coletânea, que vale muito pelos problemas que circunscreve, diz, organicamente, o poeta Franchetti: “Na infância, inutilmente gritavam os porcos/ A caminho do abate./ Muitas vezes esses gritos me fizeram perguntar/ Para quem, por quem, com que sentido”. Assim são os poetas.

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