Homenagem a Olga Savary

Por José Armando Pereira da Silva*

A jornalista, escritora, tradutora e ensaísta Olga Savary, que faleceu, vitimada pela covid em maio de 2020, trabalhou com Massao Ohno por mais de uma década.

Massao e Olga Savary (1933 -2020) – uma associação improvável, que durou mais de dez anos. O profissionalismo de uma autora sempre empenhada e organizada se confrontando com o espirito boêmio do editor, que não respeitava prazos, falhava na distribuição dos livros, não prestava contas da vendas e não aceitava suas sugestões. Então, como explicar que confiasse a Massao a edição de sete de suas obras mais significativas e ainda o chamasse para trabalhos em outras editoras? Ela mesma responde: “Ele sabia fazer um livro”.

Suas habilidades de designer (e ousadia, como Altaonda, em grande formato, estampando na capa o retrato da autora) combinadas com a escolha dos ilustradores Calasans Neto, Manabu Mabe e Aldemir Martins, Tomie Ohtake, Guita Charifker, Kazuo Wakabayashi deram aos livros de Olga, com o reconhecimento literário, visibilidade para prêmios em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sobre Retratos, concluía a jornalista Elizabeth Vieira: “Um belo livro. Que vale a pena ser lido. E visto” (Jornal da Tarde, 9.12.1989).

Na sua temporada carioca dos anos 1980, Olga foi sua anfitriã no meio literário, e se considera lançadora de seu nome fora do reduto paulistano. Foi quem o apresentou a Marly de Oliveira.

Outra afinidade os aproximou: o gosto pelo haicai. Olga estava entre as primeiras cultoras e divulgadoras do gênero no Brasil. Como praticante, ampliou o arco temático tradicional e liberou-se de estrita grade formal, sem fugir ao espirito das imagens-sínteses. Buscou lições dos mestres Bashō, Buson e Issa, que traduziu em O Livro dos Hai-kais (p. ), abrindo caminho para outros autores do gênero no catalogo de Massao. Quando voltou ao mestre, no preparo para a editora Hucitec de Hai-kais de Bashō, foi a ele que confiou a coordenação gráfica.

Também precursor, Magma mostra outra faceta da obra de Olga Savary. Provavelmente o primeiro livro integralmente de poesia erótica escrito por uma mulher no Brasil. Serve-lhe de capa obra de Tomie Ohtake – truque mais uma vez usado pelo editor: involucro minimalista de suave combinação cromática para um conteúdo ardente. O contrário se dá em Eden Hades, onde as representações da ave do paraíso, da mulher nua e de São Jorge matando o dragão, criadas por Guita Charifker, conduzem diretamente aos arquétipos míticos e sagrados que são dominantes nos poemas.

Olga Savary soma ao oficio poético trabalhos como jornalista, contista, tradutora e organizadora de antologias. Além dos clássicos do haicai, traduziu Borges, Cortazar, Fuentes, Lorca, Neruda e Octavio Paz. Organizou a Antologia Brasileira de Poesia Erótica (1984) e a Antologia da Nova Poesia Brasileira (1992), reunindo 334 poetas de todos os Estados brasileiros, na qual também convocou Massao para a supervisão gráfica. Sua obra tem recebido várias análises, sendo a mais abrangente no âmbito acadêmico a de Marleine Paula Toledo: Olga Savary – Erotismo e Paixão (2009).

Conheça mais sobre Massao Ohno e Olga Savary

*José Armando Pereira da Silva é Mestre em Teatro pela Universidade do Rio de Janeiro e em História da Arte pela USP. Pertence à Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) Publicou: Província e VanguardaThomas Perina – Pintura e PoéticaJoão Suzuki – Travessia do SonhoA Cena Brasileira em Santo AndréPaulo Chaves – Andamentos da Cor e Artistas na Metrópole – Galeria Domus, 1947-1951. Organizou: Guido Poianas – Retratos da CidadeVertentes do Cinema ModernoLuís Martins, um Cronista de Arte em São Paulo e José Geraldo Vieira – Crítica de Arte na Revista Habitat.  É autor de Massao Ohno, Editor (Ateliê Editorial).

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