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Incêndio no Museu Nacional: como preservar os acervos?

Por Renata de Albuquerque

 

O incêndio que se abateu sobre o Museu Nacional do Rio de Janeiro destruiu quase todo o acervo de 20 milhões de peças. Menos de 1,5 milhão de itens saíram intactos. O Museu, que em 2018 completou 200 anos, contava, entre muitos outros itens, com uma coleção de peças egípcias, artefatos greco-romanos e abrigava Luzia, o mais antigo fóssil humano já encontrado no Brasil. Essa tragédia cultural colocou na pauta o tema da conservação dos acervos e dos museus no Brasil, muitos dos quais correm também riscos.

Beatriz Mugayar Kühl

A arquiteta Beatriz Mugayar Kühl, especializada na área de preservação de bens culturais na Katholieke Universiteit Leuven (Bélgica) e doutora pela Universidade de São Paulo e pós-doutora pela Università degli Studi de Roma, explica que o problema não é apenas o dano no acervo. “É um acervo de 200 anos que sumiu. O prédio até pode ser restaurado, mas o próprio edifício era uma peça de acervo, pois mostrava um modo de construir que pegou fogo”, afirma.

Ela, que é uma das organizadoras da Coleção Artes&Ofícios, da Ateliê Editorial, faz parte atualmente de um grupo de trabalho que se dedica a auxiliar na restauração do Museu Paulista. Conhecido como Museu do Ipiranga, ele deve reabrir ao público em 2022, depois de quase uma década em obras. O grupo, formado por profissionais da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) e do Departamento de Pesquisa da Universidade de Ferrar (Itália), tem por função coordenar trabalhos e auxiliar na captação de verbas para preservar tanto a edificação em si quanto o acervo do museu.

Segundo a arquiteta, no Museu Paulista, o diagnóstico estrutural foi concluído em 2017, o projeto arquitetônico de restauração já foi escolhido e está em andamento. “Foi realizado um escaneamento do telhado, para entender como podemos sustentar o forro, por exemplo. Coletamos dados que agora estão sendo analisados e que ajudam os arquitetos a ‘enxergar o que as paredes escondem’, as estruturas, os elementos da construção”. Assim, é possível planejar com mais segurança o restauro e a manutenção futura do edifício, diminuindo o risco para o próprio edifício, o acervo e o público.

“Os museus, principalmente os ligados a universidades, não são apenas locais de visitação. São centros de pesquisa, com elementos que nos ajudam a refletir sobre o hoje, com o olhar contemporâneo sobre peças do passado. E assim conseguimos vislumbrar o amanhã”, avalia.

Com o incêndio do Museu Nacional, aumentou o interesse pelo tema da conservação de acervos. Para quem quer conhecer mais a respeito do assunto, a arquiteta sugere a leitura de Cartas a Miranda, de Quatremère de Quincy. “Esse livro chama a atenção para a questão da preservação. É um livro que pode ser lido por quem está interessado pelo tema”, indica.

Afinal de contas, quanto mais informação tivermos, maior a chance de evitar que tragédias como o incêndio do Museu Nacional se  repitam.

 

 

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