Mistura de técnicas marca ilustrações de “Coração, Cabeça e Estômago”

Gustavo Piqueira, da Casa Rex, é um designer premiado internacionalmente. Ele foi convidado a ilustrar a edição de “Coração, Cabeça e Estômago”, de Camilo Castelo Branco, que a Ateliê acaba de lançar, pela coleção Clássicos Ateliê. Nesta entrevista, ele fala ao Blog da Ateliê sobre como foi a experiência:

Quando surgiu o convite para ilustrar a obra, você a leu? Ou o interesse veio após a leitura?

Gustavo Piqueira: Eu a li após o convite, o Plínio Martins Filho me chamou para ilustrar pois considerou que eu gostaria da obra (o que de fato ocorreu).

Caso tenha lido a obra, qual foi sua primeira impressão a respeito?

GP: Confesso que foi surpreendente: como muitos, o que conhecia de Camilo Castelo Branco era “Amor de Perdição” — não esperava uma obra tão divertida como “Coração, Cabeça e Estômago”.

 

Quais foram suas inspirações e referências para ilustrar a obra?

GP: Já que o texto apresentava esse viés cômico, quis brincar com a própria ideia de ilustração contemporânea para um clássico: quase todos os personagens masculinos que ilustrei (inclusive aquele que representa o protagonista) tem o rosto do próprio Camilo Castelo Branco. Mesmo os outros rostos que compõe as ilustrações vem de retratos expostos em sua antiga casa, hoje tornada museu. Além disso, misturei não apenas técnicas de desenho — colagem, pincel, caneta — como também uma execução de aparência mais “descontraída” tomando, contudo, o tipo de caricatura que predominava nos periódicos da segunda metade do século 19 como base gráfica estrutural. Ou seja, a ideia foi mesclar técnicas, épocas e tons.

 

Qual a função, em sua opinião, das ilustrações nesta edição?

GP: Penso que ajudar a aproximar o leitor contemporâneo do texto, ajudar a remover uma eventual torcida de nariz que aqueles livros considerados “clássicos” podem trazer a tiracolo, como se a classificação fosse sinônimo de conteúdo pouco interessante ou ultrapassado.

 

Camilo Castelo Branco é um autor considerado romântico, mas nesta obra ele mostra uma veia cômica bastante marcada. Isto, para o trabalho de ilustração, foi um desafio ou um elemento que ajuda na desconstrução da imagem canônica do “clássico para vestibular”?

GP: Para a ilustração não foi nenhum problema, pois os desenhos terminam por se vincular muito mais à narrativa específica do livro do que à obra do autor como um todo.

Como essa veia cômica do autor foi traduzida no trabalho de ilustração?  

GP: Escolhi passagens específicas que pudessem ser traduzidas em desenhos divertidos e, mesmo naquelas imagens que ilustram trechos mais neutros, busquei acrescentar alguma expressão ou movimento que carregasse um pouco de graça. O objetivo foi o de criar uma série engraçada, mas sem passar do ponto.

 

Como foi o trabalho de elaboração da capa? Qual foi sua preocupação maior quanto a este aspecto?

GP: A capa deveria seguir o padrão da coleção Clássicos Ateliê. Logo, penso que o trabalho foi muito mais o de encontrar um “encaixe” entre a linguagem que adotei nas ilustrações e essa estrutura.

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