Novos Poemas reúne a produção de Carlos Vogt já postada na internet

Por: Renata de Albuquerque

Novos Poemas, do poeta e linguista Carlos Vogt, reúne três pequenas coletâneas: “Bandeirolas”, “Bolinhos de Chuva” e “Dedo de Moça”. As duas primeiras não tinham aparecido em livro ainda, mas os poemas já haviam sido apresentados em canais da internet, como na página de poesia do autor: Cantografia. A terceira, por sua vez, foi publicada em 2011. A seguir, o autor fala sobre o recente lançamento:

Quais foram suas principais motivações e influências para este Novos Poemas?

Carlos Vogt: As influências permanecem como um dos substratos culturais e poéticos que foram se manifestando nos livros anteriores, na convivência no abrigo das novas formas em que foram se manifestando, no jogo de tensões entre o clássico, o moderno e o contemporâneo, na busca inevitável do poema em pretender sempre ser único, mas em não ter unicidade senão na multiplicação de si mesmo em outros poemas, em poemas na coletânea, da coletânea em livro.

Os poemas já haviam sido publicados em revistas eletrônicas antes. Qual a importância de reuni-los em livro? Esse suporte físico ainda é um diferencial para a recepção do leitor, na sua opinião?

CV: Sem dúvida, o livro, que se faz dos poemas que ele coleciona e reúne, desta reunião faz-se, ele próprio num poema feito de poemas. Por isso, ter publicado os poemas, anteriormente, em meios eletrônicos, importa e não importa, já que o livro é que constitui o objeto novo da expressão da poesia.

Carlos Vogt

Como é o trabalho, para um poeta que continua ativo e produzindo, de debruçar-se sobre uma antiga produção? O que mudou na sua percepção do material? Você fez muitas alterações nele?

CV: Na verdade, mais do que antiga, a produção dos poemas é contínua e esta continuidade integra também uma das características da poesia que os poemas, agora reunidos em livro, expressam.

Na “Nota” que abre o volume, está escrito: “De qualquer modo são Novos Poemas postos assim em livro para decantação.” Se, por um lado, decantar significa “celebrar em versos”, por outro também significa “separar impurezas, limpar, purificar”- algo que também remete ao trabalho de edição de textos em si. Que sedimentos poderão precipitar desses Novos Poemas? O que o leitor pode recolher e aproveitar deles, em sua opinião?

CV: Penso que a  melhor resposta a esta pergunta é a que pode ser lida na poética  formulada no poema “Metalurgia”, do livro do mesmo nome, que publiquei em 1991:

 

Metalurgia

Ponho a palavra em estado de gramatical ofensa,
no torno retalho suas redondezas,
desgasto obsessivo com a broca da caneta
o que há de angular e mole na sentença.
Fora, uma forma enxuta, dentro, amor de sequidões,
ovo sozinho sem nenhum conceito a circundar-lhe a norma
de ser só ovo, sêmen contido, casca de memória.
Fazer abrasivo:
a lima, a lixa, a mão desgastam por extornos
a rixa com o verso, a rima com o avesso;
no chão, limalhas, matéria de contornos;
na página, o poema:
liso, úmido, duro como gelo.

Como a própria “Nota” também frisa, há uma diversidade de conteúdos presentes nos poemas deste volume; bem como de formas. É possível estabelecer uma linha condutora a partir dessa diversidade ou a construção de Novos Poemas é, de fato, prismática; fragmentária?

CV: A construção é prismática, é fragmentária, mas pela tensão que o poema acima revela, esconde também a organicidade do universo cultural, linguístico e poético de minha história pessoal, social e literária: o poema curto não é o antípoda do poema longo, e vice-versa, só pelo tamanho, mas também pelo que contém do outro, na ausência, tanto na forma, como no conteúdo.

Você escreveu a apresentação de Cicatriz, de Eduardo Guimarães, que também está sendo lançado pela Ateliê, inclusive em um evento conjunto em Campinas. Esta é uma mera coincidência? Qual a relação entre vocês dois?

CV: Somos colegas de Departamento, na Unicamp, o Departamento de Linguística, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), e também no Núcleo de Criatividade (Nudecri), na mesma universidade. Sobretudo, somos amigos há muitos anos, com uma amizade que passa do existencial para o intelectual e para o institucional. No caso, se diz também no poético.

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