Ateliê fecha 2015 com poesia
Por Renata de Albuquerque
2015 foi um ano cheio de dificuldades: econômicas, políticas, sociais. Mas, como disse Nietzsche, “nós temos a arte para não sucumbirmos junto à verdade”. Por isso, a Ateliê resolveu apostar na poesia para celebrar o final do ano e presenteia seus leitores com três obras que, se não são feitas apenas de versos, tecem-se de poética, criam imagens cheias de significações transcendentes e fazem da linguagem uma ferramenta lúdica de fruição:
Desconhecer, Ricardo Lima
Obra contém 40 poemas, escritos ao longo de três anos – todos sem título, sem tema definido e em letras minúsculas. Isso porque, para o autor, o mais importante é a unidade formada por todos eles. “No caso dos meus poemas penso que títulos seriam limitadores, pois iriam sugerir uma leitura, direcionar a interpretação. Além disso, como os poemas são sempre curtos, a inexistência de títulos possibilita uma leitura mais ininterrupta do livro, como se fosse um grande poema”.
Poema da página 11 de Desconhecer
nasci para cultivar
mundo
que não verei
neto do meu filho
cidadezinha asiática
sombra de algumas sementes
nasci para cultivar uma encosta
com floresta.
Girassol Voltado para a Terra, Renato Tardivo
A intenção de Tardivo era a de que seu terceiro livro de ficção fosse um romance. No entanto, ele explica, frases curtas, enredos concisos, mistérios cotidianos e existenciais foram surgindo.Depois de entrar nas redes sociais, diz, passou a se interessar pelo exercício da comunicação imediata e concisa.“Há um ou outro poema também, mas, em que se pese a transgressão de gênero, considero que se trata de um livro escrito em prosa”, define.
Metamorfose
Ela arrancou o texto à unha, enrodilhou-se em suas
frases. Envergonhadas, letras escorriam – como lágrimas –
das pernas.
Porta-retratos, Marise Hansen
Com apresentação de Ricardo Aleixo e quarta-capa escrita por Arnaldo Antunes, Porta-retratos é a estreia de Marise Hansen na poesia, que compila poemas escritos entre 2011 e 2014. Os temas variam: a lua, a solidão, o amor, a espera, o tempo, o mar, os mitos, mas costumam, em comum, estabelecer estreito vínculo com imagens, vistas sob novas perspectivas. “Muitos de meus poemas surgem de imagens, de momentos, de flagrantes. Gosto do ato de enquadrar, de encontrar ângulos, expressões de rosto, paisagens, contrastes e luzes”, esclarece a autora.
Peso Leve
Pesa
Transitar entre o invisível
Tanto quanto pesa
Esta poesia substantiva,
Tangível.
Esta poesia substantiva
De coisas e verbos
No infinitivo
Em que o tangível
É tão – e só –
Infinito.