Ação e Retaliação

vvvvvRenato Tardivo

Relatos Selvagensfilme argentino dirigido por Damián Szifrón, lembra um livro de contos. O longa resulta de seis histórias independentes que abordam a mesma temática. A sequência de abertura sinaliza ao espectador o que virá: vingança, catarse, humor, tragédia. Talvez a obra não funcione tão bem enquanto unidade, justamente pela falta de articulação no roteiro. Mas, apesar disso, o filme é relevante pelos questionamentos que traz.

O foco incide sobre a classe média e elite argentinas, emaranhadas em circuitos fechados e transbordantes de tensão. Toda ação implica uma retaliação. Não há saída que não seja explosiva: sobra para todos. O tema, aliás, é atualíssimo também no Brasil. O cinema nacional tem realizado bons filmes de temática análoga, com a seguinte diferença: aqui, o foco normalmente recai sobre a periferia, lançando luz (em ficções documentais) aos que estão à margem.

Relatos Selvagens – que lembra o trabalho dos cineastas Quentin Tarantino e Robert Rodriguez – não propõe uma ficcionalização da realidade. Em sentido inverso, o filme empreende o resgate do cotidiano em histórias aparentemente inverossímeis – mas assustadoramente reais. Quer dizer, nos damos conta do quanto de ficção está presente em nossa realidade.

A última história talvez destoe das demais por causa do desfecho. Durante a festa de um casamento, a noiva descobre a traição do marido e, nessa atmosfera, concretiza sua vingança, de modo que a celebração da união se transforma em campo de guerra. Mas, nesse enredo, o final é (surpreendentemente) “feliz”.

Que não se engane o espectador, entretanto. Houvesse uma explosão derradeira, provavelmente nos assentaríamos em outras bases. Nesse sentido, a “felicidade” do casal é emblema de que continuamos. Exatamente como estamos.

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