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Entrando nos Clusters de Pedro Marques

Marcelo Veronese

Clusters, de Pedro MarquesO título vem como que forjado na capa grossa, Clusters incrustado fundo com letras que parecem ter sido datilografadas numa máquina de escrever para não deixar as palavras lineares, para que no extremo início os caracteres já se vissem livres de qualquer objetivo, isentos de fazerem de sua união qualquer significado final, sem alvos, e ainda assim pesados, chumbo no papel duro, sulco no olho (que o dedo pode revelar plano, talvez) enquanto o nome do poeta desce pela margem direita, de lado, paralelo à esquerda cor de vinho (uma lombada caudalosa), nome como numa escrita vertical que antes cruzou o título – como acontecerá dentro do livro, na relação entre os títulos dos poemas e os próprios versos: Clusters aperta o gatilho da mente, o autor escapa da cena – e o leitor entra…

Eu leio e releio a dedicatória, como quem se cumprimenta demoradamente, eu pulo o prefácio porém me deparo com uma introdução em prosa, eu a leio sem atenção, eu quero os versos – poemas! – e, assim que leio “I” de Olfativas, tudo o que li na prosa volta à minha mente, mesmo sem eu querer “voltar”, quero ir adiante, releio o poema porque “massa”, “conjunto”, “música”? Sim, é isso; não, não só isso: ali em “I” há poucos versos e muito mais coisa, bem ali leio tanto e tantas vezes que me rendo, sim, tudo o que veio antes é verdade, toda a prosa falava da poesia, que então se mostra muito mais livre e forte e alta que eu não tenho coragem de escrever uma palavra sobre este poema.

A tentação é voltar mais atrás e ler o que Lêdo Ivo disse sobre os livro, mas não: eu não me rendi ao que não entendo. Eu me rendo a uma novidade que, confesso, não esperava que coubesse logo ali, de início, naqueles poucos versos, e isso me perturba agudamente, é estranho, percebo que reli o “mesmo” poema várias vezes, como se a releitura não me desse outros modos e as várias maneiras de senti-lo. De modo que, no fundo, penso já se encontrar concentrada ali tudo, ou muito já exposto de antemão numa composição feita para uma única leitura, e em verdade, isso é fazer um poema (digo, um único e imortal poema), isso é estilo em poesia, essência e plural, conjunto e isolação, Pedro abre seu livro com um alcance inimaginável pra mim, esse que tem medo de não conseguir contar o que viu e o que ainda sente, que até então achava que não sabia quem era ele, o poeta, nem quem era Clusters, mas pensava saber o que era poesia.

Ok, uma palavra (que vale por duas): maravilhado – espanto e admiração…

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Pedro Marques é doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp. Editor e colaborador da Revista de Poe­sia Lagartixa e do site Crítica & Companhia. Organizou a Antologia da Poesia Parnasiana Brasileira e co-organizou a Antologia da Poe­sia Romântica Brasileira, ambas em 2007. Pela Ateliê publicou Manuel Bandeira e a Música – com Três Poemas Visitados.

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