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O cancioneiro e sociedade

Heitor Ferraz Mello | Guia da Folha | 27 de julho de 2013

Melancolias, Mercadorias: Dorival Caymmi, Chico Buarque, o Pregão de Rua e a Canção Popular-Comercial no BrasilEm Melancolias, Mercadorias, Walter Garcia analisa duas canções compostas em momentos diferentes, com o objetivo de ver nelas a matéria histórica brasileira, específica depositada. Trata-se de A Preta do Acarajé, de Dorival Caymi, gravada em 1939 por Caymi e Carmen Miranda (com possível participação de Dalva de Oliveira), e Carioca, de Chico Buarque, de 1989, gravada no disco Cidades.

Como lembra Garcia, autor também de Bim-Bom, a Contradição sem Conflito de João Gilberto (Paz e Terra, 1999), seis décadas a separam, mas em ambas há a presença do pregão de rua, que será um dos pontos centrais de sua leitura. Tomando como eixo o conceito de cordialidade de Sérgio Buarque de Holanda – mas não só, evidentemente –, ele mostra a melancolia na canção de Caymi, com os hábitos coloniais inseridos num mundo em transformação violenta.

Já na canção de Chico, sua leitura recai no ponto de vista enunciador/narrador da canção, em que há uma espécie de ambivalência entre conformismo e resistência no tipo de notação, próxima a crônica urbana, que periga deslizar para o conservadorismo. É uma leitura provocadora e instigante, que dá continuidade a sua pesquisa de reavaliação do cancioneiro brasileiro, do ponto de vista da relação entre canção e sociedade.

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