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A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas, de Roberto Gambini

Livro vencedor do Prêmio Jabuti de Psicologia e Psicanálise 2009

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A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas
Por detrás de cada biografia, há a dor de existir, o universo dos símbolos e o desejo de compreensão, marcas pungentes e arquetípicas do humano em busca de decifração e acolhimento. O ambiente psicoterapêutico é o palco por excelência desse teatro subjetivo que, encenado a dois, se propõe a descortinar o ser para além do saber – um processo de autoconhecimento árduo e sem garantias, que exige ampla entrega de seus protagonistas.
Do lado do terapeuta, como preparar-se para dar conta daquilo que é indizível, o inconsciente? Ou então, como manejar a teoria na clínica: a transferência, a interpretação dos sonhos, o tempo e as promessas da terapia? Em seu novo livro, A Voz e o Tempo – Reflexões para Jovens Terapeutas, o psicoterapeuta junguiano Roberto Gambini se apoia na sua larga experiência clínica para responder a essas questões. Situando-se na confluência entre ciências sociais e psicologia analítica, ora apoiando-se na oralidade, ora em referências literárias e fatos cotidianos, o autor passa longe dos manuais técnicos ou conselhos diretivos para compor um texto sensível e poético, que certamente interessará a um público mais amplo.
Para expressar as percepções ou realidades que muitas vezes não conseguimos nomear (o indizível da experiência), Gambini forja imagens bastante originais. O livro se divide basicamente em duas partes, que se complementam com um percurso detalhado da formação do autor e o modo como ele foi inspirado pelas ideias do fundador da psicologia analítica.
Na primeira, “Num Certo Tempo”, o autor recupera escritos do final dos anos 90, quando tinha dezenove anos de profissão. É aí que esmiúça aspectos importantes da obra junguiana, fornecendo ao leitor um panorama da psicologia analítica desde suas origens até os dias atuais, tendo como eixo a interdisciplinaridade. Em destaque, as contradições fundamentais entre as ideias de Jung e Freud (que levou ao rompimento da relação profissional e de amizade entre os dois); os trabalhos de vanguarda para o entendimento da esquizofrenia e de seu tratamento, com o apoio da arte para expressar imagens do inconsciente; as relações pouco exploradas entre Jung e a filosofia; os primeiros junguianos; entre outros temas.
Na segunda parte, que contempla seus 30 anos como analista junguiano, Gambini aprofunda suas inovações conceituais, em meio a um texto fluente e ancorado na oralidade. Como sintetiza Adélia Bezerra da Meneses, em seu prefácio, são três os aspectos inovadores. A transferência, que ganha dimensão arquetípica, tornando-se pulsão de compreensão pelo outro, uma necessidade vital do indivíduo de alcançar reconhecimento para poder ser. A interpretação dos sonhos, que é vista como um processo de diálise psíquica, metáfora orgânica para explicar de que modo “a matéria do sonho, como o sangue, precisa circular em outras veias, ser retransfundida no analista, passar pelo seu circuito psíquico e emocional, e daí retornar oxigenada, transformada”. E a dor, matéria-prima da clínica, passível de se transformar em força criativa ou letal. Nas palavras do autor, trata-se do “coração da agonia, porque lá, em seu mais íntimo, pulsa e vibra uma força de renascimento e restauração do que foi destruído e caiu nas trevas da sombra”.
Com A Voz e o Tempo Gambini mostra, de maneira original, como o ofício da escuta, muito mais que profissão, é destino, diante do qual não se deve recuar, mas circunscrever, ainda que tateante, os limites do possível. Compre com 25% de desconto
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Roberto Gambini é terapeuta junguiano, conferencista e ensaísta. Formado em Ciências Sociais pela USP e ex-professor de Ciência Política na Unicamp nos anos 70, partiu para a formação Psicologia Analítica no Instituto Carl Gustav Jung de Zurique. É membro da Sociedade Suíça e da Sociedade Internacional de Psicologia Analítica e autor de O Duplo Jogo de Getúlio Vargas, Outros 500, Uma Conversa sobre a Alma Brasileira (entrevistado por Lucy Dias), Espelho Índio – A Formação da Alma Brasileira, entre outros.

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