Mês: setembro 2011

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Sensibilidade e suspense na trajetória de Grenoille, em O Perfume

… as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas. Patrick Süskind O Perfume faz parte daquela categoria de livros devoráveis em poucas horas. Seu autor, Patrick Süskind, nascido alemão e tendo estudado História Moderna e Medieval na Alemanha e França, escreveu roteiros de televisão e contos, e…

O suicídio, a arte e os escritores

Apertado entre o fim da infância e o começo da adolescência nasceu meu fascínio pelo suicídio. Começou quando, escrevendo meu primeiro romance, aos 13 anos, senti que meu protagonista deveria romper a própria vida no átrio de um colégio. O livro foi lido em algumas salas, provocou espanto em alguns, interesse em outros, mais pela trama do que pelas tragédias narradas. Então algum deus da escrita bateu sua baqueta num xilofone e eu soube que seria escritor, que na escrita havia esse lugar remoto e profundo onde eu me encontraria por completo. Quando se acreditava que a arte era uma…

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A Lição Aproveitada – Modernismo e Cinema em Mário de Andrade

Fonte: ICnews | Isabel Furini . Quem gosta de cinema não só de assistir a filmes, mas de entender o fascínio que ele exerce sobre algumas cabeças brilhantes, como no caso de Mário de Andrade, vai deleitar-se com a leitura de A Lição Aproveitada, (Ateliê, 352 p., 2011), especialmente estudantes e profissionais das áreas de Letras, Cinema e Artes em geral, que desejem entender o início do cinema no Brasil e a influência que exerceu sobre a literatura. João Manuel dos Santos Cunha, professor na Faculdade de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas,…

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Eduardo Miranda respira James Joyce em Dublin

Em entrevista ao Blog da Ateliê, o tradutor, músico e poeta falou da relação de “amor e ódio” entre Joyce e Dublin. Eduardo Miranda chegou à final do Concurso de Tradução Bloomsday 2011 e publicou sua tradução na revista eletrônica TUDA. Como foi seu primeiro “encontro” com a obra de James Joyce? Joyce me chegou primeiro através de Ulisses, ainda muito jovem – praticamente ilegível para mim na época. Depois fui cronologicamente retrocedendo: Retrato do Artista Quando Jovem, Dublinenses, e depois a poesia… mas foi em Dublin que tive a oportunidade de me envolver mais com a literatura e a cultura…

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Uma Arqueologia da Memória Social – Autobiografia de um Moleque de Fábrica

Incomum entre os profissionais das ciências humanas, autor aventura-se em autobiografia interpretativa, em uma história marcada por episódios com momentos de ruptura no destino e estranhamentos propícios à descrição e à interpretação sociológica “A busca parecia ter chegado ao fim naquela manhã de 1976. Ao morrer, meu pai, um homem do século XIX, deixara aos filhos pequenos um legado de enigmas e silêncios, o desencontro de sobrenomes, distanciamentos entre os membros da família, ainda que próximos pela vizinhança e pelos ritos para fingir proximidade, como o compadrio, onde a proximidade estava comprometida desde o começo pelas adversidades que o tornaram…

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A escrita de luz na tela em Lavoura Arcaica

Há diferenças significativas entre as transições de tempo e espaço em um livro e em um filme. Lavoura arcaica (1975), romance de Raduan Nassar, é uma prosa poética que flui de forma assombrosa. Com efeito, é possível que apenas uma palavra sirva de ponte entre tempos longínquos – lugares distintos. A narrativa, de atmosfera trágica, consiste na volta de um filho para casa, onde houve uma relação incestuosa com uma das irmãs. André, o narrador-personagem, costura os estilhaços que assolaram sua família em texto. É o que ele também realiza, dessa vez nas condições de narrador e personagem do filme…