Tatit e Lopes analisam canções de quatro compositores da MPB

(por Alexandre Marcelo Bueno – Revista do GEL)

A teoria semiótica de linha francesa, criada por Algirdas Julien Greimas, em meados da década de 1960, tem a significação como seu objeto de estudo. Durante boa parte de seu desenvolvimento inicial, a semiótica prescindiu, de modo consciente, da análise do plano da expressão para focalizar o modo como o plano do conteúdo se organizava. Para isso, Greimas e colaboradores elaboraram um arcabouço conceitual que correspondeu, por um lado, a uma afamada economia conceitual, e, por outro, a algumas limitações que não se referiam apenas à organização do plano da expressão.

Sendo uma das poucas herdeiras declaradas do patrimônio conceitual saussuriano e, principalmente, de seu refinamento, promovido por Louis Hjelmslev, a semiótica esbarrou nos limites impostos pelo edifício teórico que ela própria erigiu. Na década de 1980, alguns semioticistas já procuravam ampliar o escopo da teoria, retomando questões centrais anteriormente deixadas de lado, como os estados passionais dos sujeitos narrativos e o próprio plano de expressão. Não por acaso, após a morte de seu fundador, a semiótica passou a conviver com diversas propostas conceituais e analíticas, cuja co-existência nem sempre é pacífica. Dentre essas propostas, a semiótica tensiva, que tem em Claude Zilberberg seu mais destacado proponente, surgiu como o intuito de integrar a dimensão sensível, colocando assim o plano de expressão no centro dos interesses da teoria. Dessa feita, atualmente, diversos semioticistas buscam investigar a organização do plano da expressão, enquanto instância produtora de significação; buscam, também, compreender como se define sua relação com o plano do conteúdo.

O livro Elos de Melodia e Letra – Análise semiótica de seis canções, lançado em 2008, é o resultado do trabalho dos semioticistas brasileiros Luiz Tatit e Ivã Carlos Lopes, que apresentam recursos teóricos para se compreender melhor a relação entre os planos do conteúdo e da expressão a partir de um objeto privilegiado para isso: a canção. Na introdução do livro, os autores apresentam seus objetivos iniciais: não apenas examinar a letra e os elementos melódicos e rítmicos da música como componentes dotados de significação, mas compreender o elo que une esses dois planos constitutivos de seu objeto de análise.

Os autores partem, assim, do pressuposto de que a melodia, enquanto plano de expressão, também tem sua parte na construção da significação total da canção. Dessa forma, eles delimitam o espaço de pertinência de seu trabalho em relação a outras áreas, que frequentemente se detém apenas na análise da letra. Ao contrário, na perspectiva teórica adotada pelos autores, a canção é entendida como a junção entre melodia e letra e ganha, assim, contornos de um objeto complexo e rico de significações.

Para essa empreitada, os autores utilizam os conceitos da semiótica tensiva, uma das principais linhas teóricas da semiótica, que serve muito bem ao propósito analítico do livro. As análises das canções não se restringem, assim, a apenas elencar o que há de específico em cada canção, como se fosse possível localizar as “reais intenções” dos compositores; elas apresentam os elementos invariantes que caracterizam o objeto canção. Por isso, conceitos como andamento, tonicidade, tempo, concentração, expansão, entre outros, caros à semiótica tensiva, são presenças constantes nas análises.

Tatit e Lopes analisam canções de quatro conhecidos compositores/cantores da MPB (Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes). As canções analisadas são: “Terra” e “Fora da Ordem”, de Caetano Veloso; “Olê Olá” e “As Vitrines”, de Chico Buarque; e “Eu Sei que Vou te Amar” e “A Felicidade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

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