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Jornal A Tarde entrevista tradutor da obra do poeta Shelley

Tradutor, junto com Alberto Marsicano, de Sementes aladas – Antologia poética de Percy Bysshe Shelley, John Milton nasceu em Birmingham, Inglaterra, e é professor associado de Língua Inglesa e Literaturas de Língua Inglesa da Universidade de São Paulo. É autor dos livros O poder da tradução (reeditado como Tradução: teoria e prática), O clube do livro e a tradução e Imagens de um mundo trêmulo, livro de viagens sobre o Japão. Milton também verteu para o inglês várias obras da literatura brasileira. Com Alberto Marsicano, traduziu também os livros Keats – Nas invisíveis asas da poesia e Wordsworth – O olho imóvel pela força da harmonia, pela Ateliê Editorial. Ele e Marsicano já trabalham na tradução de obras de Lord Byron.

Qual a importância da poesia de Percy Shelley no contexto do romantismo inglês?

Shelley é um dos poetas líricos mais importantes da literatura inglesa; ele cristalizou vários dos temas de Wordsworth, Coleridge e Keats: a importância da natureza; a liberdade do espírito; e a força da Imaginação. E a isso acrescentou radicalismo e militância políticos.

Qual o impacto de seus poemas na época em que ele viveu?

Relativamente pouco. Shelley teve muito mais influência nas gerações subsequentes, a partir da metade do século 19. Foi admirado por poetas vitorianos, como Robert Browning, Alfred Lord Tennyson, Dante Gabriel Rossetti, Algernon Charles Swinburne, e poetas posteriores, como Henry David Thoreau, William Butler Yeats e Edna St. Vincent Millay. Mais recentemente, sua poesia tem sido elogiada pelo crítico norte-americano Harold Bloom.

Shelley trouxe alguma inovação na forma como se fazia poesia em sua época?

Embora Shelley usasse a forma dominante do pentâmetro iámbico na maioria de sua poesia, também experimentava com a forma poética, como em Ode ao vento do oeste, em que ele se vale de uma forma modificada da terza rima, e em A uma cotovia, no qual inventa uma estrofe de 6/5/6/5/12 sílabas. Suas inovações seriam continuadas durante a época vitoriana por poetas como Robert Browning, e o século 20 iria ver “uma ruptura” na dominação do pentâmetro iámbico, como diria Ezra Pound.

Até que ponto as ideias de Shelley influenciaram gerações posteriores de poetas e pensadores no mundo? Quem o senhor citaria como seu seguidor?

O lirismo de Shelley influenciou poetas vitorianos como Robert Browning, Alfred Lord Tennyson, Dante Gabriel Rossetti, Algernon Charles Swinburne, e poetas posteriores como Henry David Thoreau, William Butler Yeats e Edna St. Vincent Millay, mas suas ideais políticas, que incomodavam o establishment, foram deixadas de lado na época vitoriana. Porém, o próprio Yeats, na sua luta pela independência da Irlanda no final do século 19 e no começo do século 20, teve certa influência política de Shelley, e o mesmo pode ser dito de Mahatma Gandhi.

Além de amigos, Percy Shelley e Lord Byron se caracterizaram pelo engajamento na causa dos povos oprimidos. Quais as principais diferenças no estilo poético de cada um?

Politicamente, as ideias de Shelley eram muito mais radicais. Politicamente esquerdista, ele também acreditava no ateísmo, no amor livre, na independência da Irlanda e no vegetarianismo. Byron compartilhava o filo-helenismo de muitos ingleses das classes altas, que queriam ver a restauração da Grécia clássica, e foi para a Grécia ajudar na luta pela independência grega do império otomano, mas ele era politicamente conservador. A poesia de Byron é geralmente narrativa, e escreveu poucos poemas curtos líricos. Nosso gosto hoje em dia favorece este gênero de poesia, e os poemas longos de Byron, como Childe Harold’s Pilgrimage, The Corsair e The Prisoner of Chillon, que eram muito populares na sua vida e no resto do século 19, são pouco lidos hoje. Também os poemas longos de Shelley, como Laon and Cynthia, O revolto do islã e Peter Bell o Terceiro são poucos lidos, mas seus poemas líricos, como Ode ao vento do oeste, A uma cotovia, Mutabilidade e Ozymandias estão entre os mais famosos da literatura inglesa.

Pelo que pudemos perceber, a seleção de poemas para o livro Sementes aladas não privilegiou muito as poesias politizadas. Houve a intenção de mostrar um Shelley essencialmente romântico?

Sim, encaixa em nosso projeto de tradução dos poetas românticos, mas um Shelley mais radical pode ser visto em Ozymandias e Soneto: Inglaterra 1891.

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